sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

509 anos sobre o nascimento de D. João de Castro

Passam hoje 509 anos sobre o nascimento daquele que foi o idealizador e o fundador espiritual do Convento dos Capuchos, o 4º Vice-Rei da Índia D. João de Castro.

De facto, foi cumprindo uma vontade sua, curiosamente não expressa no seu testamento, que o filho D. Álvaro de Castro edificou, 12 anos após a morte do pai, o Conventinho de Santa Cruz da Serra de Sintra, precisamente no local onde - de acordo com a tradição - D. João de Castro havia adormecido, e em sonhos recebido a missão de ali construir uma Casa de recolhimento para uma comunidade religiosa.

"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce".

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Francisco Caldeira Cabral sobre os Capuchos e a Penha Verde

"Se em todos os aspectos citados até aqui o jardim português se mantêm atrasado em relação aos dos outros povos da Europa, há pelo menos um, em que me parece ter-se-lhe adiantado de bem dois séculos. Refiro-me à concepção naturalista de muitas obras nossas do século XVI, como a Penha Verde e os Capuchos. Nunca mais, e em parte nenhuma se conseguiu um equilíbrio tão perfeito e uma unidade tão completa entre a obra do homem e a da natureza, não como desde o século passado rebaixando o homem ao plano simplesmente natural, mas sim elevando ambos, Natureza e Homem, ao plano divino da criação dentro do conceito católico e franciscano. Não pretendíamos imitar artificiosamente a natureza, mas apenas integrar com raro instinto, na nossa obra, as belezas naturais que encontrámos, fossem elas uma fraga, um velho carvalho ou um vasto panorama. É de notar a preocupação que tivemos de edificar as nossas casas e situar os seus jardins em locais com boa vista, - o que não é para admirar num povo que sempre viveu nas alturas e que quase ignora o que seja a planície.

Foi talvez por este amor da natureza, que o jardim era entre nós a continuação da casa ao ar livre e estava em imediata ligação com ela, o que o desenvolvimento da casa em planta e não em altura facilitava. Quase sempre pelo menos um pequeno terraço se encontrava ao nível do andar de habitação, e as árvores dos nossos jardins emolduram e aconchegam as casas portuguesas."

Texto completo aqui.

Francisco Caldeira Cabral
Fundamentos da AP, pags 129 a 134.
Jardins de Portugal (em Panorama, n.º 15 e 16, Julho de 1943)
Características tradicionais do jardim português

A decoração fresquista do Convento dos Capuchos de Sintra

Entre vários aspectos interessantes do texto do Prof. Vítor Serrão dedicado aos murais atribuídos a André Reinoso, do Convento dos Capuchos, existe um parágrafo que levanta relativamente à obra do referido pintor maneirista dentro do espaço conventual uma questão muitíssimo pertinente. Analisemos um excerto do texto original:

"Depois de descrever a igreja e as dependências do eremitério, o anónimo poeta seiscentistas alude, na estrofe 11, às pinturas decorativas existentes no Convento dos Capuchos e ao seu autor:

Pella mão de Reinozo estão pintadas
muytas figuras de estranha excellência,
tão ricas, tão perfeitas e acabadas,
que não pode ahy auer mór eminência.
Apelles e as mãos mais celebradas
que nesta arte mostrarão mais sciencia
mais sublimada couza e mais divina.


Pese embora o tom laudatório do comentário às pinturas e ao artista que as executou, parece-nos segura a relacionação desta referência poética com os murais em causa neste breve apontamento de campo. Note-se, para mais, que o autor se não refere a "painéis", e sim a "figuras pintadas", o que não faria se se tratasse de peças de altar. Naturalmente, os "frescos" de S.Francisco de Assis e de Santo António de Lisboa são apenas os resíduos de uma decoração fresquista de maiores dimensões, estendida a outras dependências do cenóbio que não só ao exterior da capela-oratório do Cardeal D.Henrique, e hoje limitada àqueles dois murais."


O poema épico sustenta a dúvida, e Vítor Serrão afirma com autoridade: "Naturalmente, os "frescos" de S.Francisco de Assis e de Santo António de Lisboa são apenas os resíduos de uma decoração fresquista de maiores dimensões, estendida a outras dependências do cenóbio que não só ao exterior da capela-oratório do Cardeal D.Henrique, e hoje limitada àqueles dois murais"

Sabendo-se que nenhuma dependência do Convento foi demolida, onde estariam - estarão? - os restantes frescos de André Reinoso? "Escondidos" nas paredes escuras da Igreja Conventual? Ou referir-se-ia o autor do poema épico ao conjunto de murais decorativos mas não figurativos espalhados pelo interior das capelas da Cerca (Senhor do Horto, Ecce Homo / São Sebastião e Senhor Crucificado)? Serrão coloca de lado esta hipótese: "Note-se, para mais, que o autor se não refere a "painéis", e sim a "figuras pintadas", o que não faria se se tratasse de peças de altar".

Legenda, da esquerda para a direita: Murais da parede da Capela do Senhor no Horto, da parede da Capela do Ecce Homo / São Sebastião e do Altar da Capela do Senhor Crucificado (quase indecifrável).

Por outro lado, poder-se-á incluir a imagem do frade crucificado do Alpendre da Portaria no grupo das "muytas figuras de estranha excellência" atribuídas a André Reinoso? Pessoalmente desconheço a autoria da belíssima figura do frade pintado sobre cruz de madeira, embora tecnicamente - e corrijam-me se estiver enganado - não estejamos neste caso perante um "fresco", que se define grosso modo como "Técnica de pintura mural, executada sobre uma base de gesso ou nata de cal ainda húmida - por isso o nome derivado da expressão italiana fresco, de mesmo significado no português - na qual o artista deve aplicar pigmentos puros diluídos somente em água" (Wikipedia).

Trata-se de um tema da maior importância, que merecia maior e mais aprofundado estudo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Convento visto por Carl Israel Ruders

São várias as referências pouco elogiosas, ou explicitamente críticas, contidas em cartas ou descrições de visitas ao Convento dos Capuchos, e relativamente a este e ao modo de vida dos seus frades, publicadas entre o final do século XVIII e meados do século XIX.

Todavia, de entre todas aquelas que conheço, nenhuma me parece mais explicitamente dura do que a carta (n.º XII) escrita por Carl Israel Ruders no seu livro "Viagem a Portugal". Ruders visitou os Capuchos durante uma deslocação a Sintra, e expressou na descrição da sua passagem pelo lugar toda a falta de empatia estabelecida entre si e o cenóbio franciscano.

Do Convento diz ter "as vistas mais feias que se pode ver" e que é "feio e insignificante". Sobre os frades, emprega um tom jocoso quando se refere à forma como estes se afastam do destino de Honório, o qual reverenciam como Santo.

O tom do texto é transversalmente marcado por uma enorme dissonância entre o espírito dos Capuchos de Sintra e a forma de ser e estar de Ruders, num registo que revela elevada falta de comunicação directa do Convento ao coração do sacerdote sueco, e vice-versa.

Fica ainda assim, porque se trata de um registo histórico que importa conservar, o excerto do texto da carta XII de Carl Israel Ruders que se refere ao Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra.

Da obra "Viagem a Portugal (1798-1802)"
por Carl Israel Ruders
Carta XII
Edição da Biblioteca Nacional de Portugal, páginas 134-135

"(...) Dali saimos para o conhecido Convento da Cortiça, que fica situado numa colina não muito elevada.

O caminho é arenoso, estreito e mau; as vistas são das mais feias que se podem ver. Quase não há árvores, nem outras plantas, nem morada de gente. Uma porção de terra selvagem, árida e monótona, onde os olhos, em vão, procuram um sítio agradável para descansar. (...)

O edifício do Convento é, na sua maior parte, talhado na própria rocha. É feio e insignificante. As janelas são simples frestas, através das quais a luz penetra obliquamente.

Por causa da humidade que ali reina constantemente, todas as paredes estão forradas de cortiça.

Vivem ali, pouco mais ou menos, 16 frades franciscanos, que se alimentam de peixe, pão e fruta. Para recreio, possuem um pequeno terraço com acentos de musgo.

As celas, subterrâneas, são bastante pequenas, e dois cobertores compoêm-lhe toda a roupa da cama.

Na igreja não há coisas notáveis. Mostraram-nos, porém, uma abertura cavada na rocha, onde uma pessoa não podia conservar-se em pé sem curvar, nem deitar-se ao comprido, e onde, no entanto, um monge viveu 16 anos.

Dentro dela havia uma pedra e algumas folhas secas. A pedra servia-lhe de travesseiro e de cadeira, as folhas, as roupas da cama (É com a maior dificuldade que a gente consegue trepar a essa abertura). Devido a esta existência de abnegação e sacríficio, esse monge é venerado como Santo pelos seus irmãos da mesma Ordem, os quais, no entanto, não se sentem com grandes tentações de ir-lhe ocupar o domícilio. Valha a verdade que eles já estão suficientemente privados de comodidades de vida, pelo facto de passarem os seus dias neste missérimo convento".

Quem foi Carl Israel Ruders?

Carl Israel Ruders, Sacerdote sueco (1761-1837). Capelão da legação da Suécia em Lisboa de 1798 a 1802, compilou no livro Portugisisk Resa (Viagem a Portugal) - várias cartas em que descrevera o meio cultural português da época.

(Fonte: Site da Embaixada da Suécia em Portugal)

Confusão em torno de Vicente Carducho

Quem consultar a ficha relativa ao Conventinho de Sintra, disponível em www.monumentos.pt, poderá ser levado ao engano - como eu fui - relativamente a um suposto quadro de Vicente Carducho - representando São Pascoal Bailão - outrora ali existente.

A referida ficha refere-o explicitamente... Todavia, o quadro nunca esteve no Convento dos Capuchos de Sintra, sendo antes parte integrante do recheio da Igreja do Convento dos Capuchos de Nossa Senhora da Arrábida.

Quem o identificou foi o conhecido académico Vitor Serrão, que também já dedicou pelo menos um artigo aos murais da Capela do Senhor no Horto do Convento de Sintra, e que a propósito do quadro de Carducho escreve o seguinte na sua obra "A Pintura Protobarroca em Portugal":

"De resto, também Vicente Carducho não limitou a sua actividade em Portugal à citada encomenda para São Domingos de Benfica, pois trabalhou também para o Convento de Santa Maria da Arrábida, por possível intermédio dos Manriques e Laras (...)".

Seria pois desejável que a ficha fosse corrigida, pois pode ser o ponto de partida para confusões e perdas de tempo em investigações sobre o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Portão do Convento

Saindo do Terreiro das Cruzes em direcção ao Convento, oito degraus conduzem-nos à zona intramuros através do arco formado pelas duas gigantescas do Portão. Ao cimo das escadas, nova estrutura de pedra encimada por uma bonita Cruz parece recordar que este não é apenas mais um lugar de oração e recolhimento, mas um Conventinho dedicado à adoração e à meditação em torno dos mistérios da Santa Cruz.

Já num nível superior ao do Terreiro das Cruzes, este pequenino pátio que se segue ao Portão do Convento permite-nos já ver ao longe o Alpendre da Portaria... mas onde estamos há mais coisas para ver: à direita encontra-se um pequeno lance de escadas, que descem até um pequeno jardim hoje abandonado mas no qual não faltariam no tempo da ocupação pequenos lagos com peixes dourados, referidos por W.M. Kinsey no seu "Portugal Illustrated".

Três degraus conduzem-nos por entre duas pedras ao pátio seguinte, onde existe uma bonita fonte de águas claras, e juntos delas duas mesas de pedra, onde - segundo a tradição local - se terá sentado durante as visitas que fazia aos Capuchos o 16º rei de Portugal e 7º da Dinastia de Aviz, o Rei-Menino D. Sebastião.

Olhando para trás, num género de despedida do mundo exterior ao Convento, temos a perspectiva superior das pedras que formam o arco do Portão, e sobre elas o sino, que já perdeu a sua Cruz. na pedra da esquerda, uma pequena argola de ferro não deixa fugir a corda, usada pelos visitantes - de outrora mas também os modernos - para anunciar a sua chegada.

Estamos prestes a mergulhar bem dentro da Cerca dos Capuchos de Sintra.

O Terreiro das Cruzes

O Terreiro das Cruzes do Convento dos Capuchos é um dos espaços mais bonitos e enigmáticos daquele lugar de Sintra, contendo no símbolo e na simbólica várias camadas de leitura possível, que se apresentam ao visitante - como outrora aos frades - num género de apelo à interacção do espaço exterior com o lugar interior que, dentro de cada um, encontra no Convento um homólogo.

Quero dizer: o coração da Serra fala directamente ao coração do Homem, e o Terreiro das Cruzes é o primeiro dos espaços do Convento que faz apelo a esse diálogo directo e sem intermediários. Apenas o Convento faz a ponte entre a Terra e do Homem, num diálogo de elevada qualidade telúrica.

O Terreiro das Cruzes eleva-se relativamente à antiga estrada que desce do chamado Cruzamento dos Capuchos, e que se prolonga em direcção ao sopé da Serra, passando próxima do Convento. Ele é um género de balcão sobre o Vale, voltado ao antigo Alto das Três Cruzes, localizado num cume fronteiro, e do qual apenas resta o nome, cruzes... nenhuma.

Para o Terreiro existem dois caminhos: a bonita, mas antiga e gasta, calçada que sobe pelo lado direito; e o caminho sinuoso de terra e pedras a brotar do chão, pela esquerda. Qualquer um dos dois conduz a pequenos torreões de pedra, encimados por bonitas cruzes também de pedra, com secção redonda. Não me cabe a mim fazer interpretações simbólicas do espaço, intrometendo-me no tal diálogo, que deve ser feito sem intermediários... pelo que nada direi nem sobre os pétreos e verdes torreões, nem sobre os caminhos que a eles conduzem.

Chegados a um dos dois, encontramos acessos de cada lado da estrutura de aspecto piramidal. Esquerda e Direita, no acesso ao Terreiro, duas vezes: nos caminhos até aos torreões, e para através destes subir a esta magnífica varanda pentagonal.


É belíssimo, este Terreiro! Espaçoso, se comparado com outros lugares mais nobres do Convento, como o Claustro. Ao centro, como eixo em torno do qual se dispõem os restantes elementos, um maravilhoso Plátano centenário, que aparece já com tamanho considerável nas ilustrações do início do século XIX. Muito terá presenciado este Plátano, que ali colocado, a meia dúzia de passos do Portão do Convento, cumpre verdadeira função de guardião, quase recordando aquelas pedras ou enormes árvores suas irmãs, que tapam as entradas para grutas, tornando-as quase invisíveis até para os mais atentos exploradores.

O Plátano do Convento sofre, segundo me dizem os entendidos, de um tipo de cancro próprio da espécie... Por outro lado, quem hoje olhar para ele vê alguns dos seus ramos severamente encurtados, resultado de uma poda que se teve de fazer, após a queda sobre o Terreiro de um cedro que se encontrava junto à calçada, e que destruiu um dos torreões (precisamente aquele que se encontra no cimo da calçada) e partiu vários braços do Plátano. Aconteceu em Janeiro de 2003, durante uma semana de rigoroso inverno, e que na Serra se manifestou sob a forma de chuvas intensas e ventos fortíssimos.

O episódio da destruição do torreão da calçada foi de facto um acontecimento não controlável pela tutela... o mesmo não se podendo dizer relativamente à sua reconstrução, feita da forma mais lamentável possível, com recurso a técnicas e materiais que nada têm a ver aqueles que se empregavam no momento da construção do terreiro. Resultado: um torreão incaracterístico, em cimento, e que durante muito tempo (anos) não atraiu para si a espessa cobertura de musgos tão própria da Serra e do Convento.

Fotografia: www.monumentos.pt

Seja como for, penso que agora pouco ou nada há a fazer. Não defendo a destruição do torreão, para posterior reconstrução com materiais e técnicas apropriadas... apenas posso lamentar que a tutela não tenha então agido com o mínimo de profissionalismo, e de acordo com os princípios que devem nortear a actuação de uma entidade que tem à sua guarda património histórico classificado.

Voltando ao Terreiro, note-se que entre as duas cruzes que encimam os torreões, e numa posição de destaque neste pentagonal balcão sobre o Vale, encontramos uma belíssima Cruz em tudo semelhante às outras excepto no tamanho, que é maior. Também não se encontra sobre nenhum torreão, mas antes no fecho do pentágono, ponto mais avançado do Terreiro apontado à estrada anteriormente referida.

Curiosamente, ou talvez não, se em Janeiro de 2003 houve uma cruz destruída e outra privada de um dos braços, esta terceira e principal nada sofreu, como se estivesse protegida na sua dignidade de Cruz do Salvador, entre as outras duas dos "ladrões", neste Gólgota sintrense dos Capuchos. O terreiro representará, sem dúvida, o Monte no qual O Cristo foi crucificado entre dois homens comuns, mas o seu simbolismo está longe - muito longe - de se esgotar nesta relação mais evidente.

"Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio." - Evangelho de S. João, 19:17-18.

Ao fundo do Terreiro, um bonito muro de pedra, cortado por um bloco granítico de grandes dimensões, sustem as terras do monte que se eleva para lá deste espaço. Infelizmente, faltam-lhe vários tijolos, o que empresta ao espaço um ar de degradação, que efectivamente existe, e que importa corrigir. Até onde se prolongaria o muro? Quanto tempo aguentará o que resta dele?

Saindo do Terreiro já em direcção ao espaço intra-muros do Convento deparamo-nos com dois enormes blocos de granito, que tocando-se formam o arco do portão que dá acesso ao primeiro pátio interior do cenóbio - do latim cenobium, "lugar onde se vive em comum" - franciscano.

Sobre a maior, que deitada se encontra dentro do Terreiro, existe um pequeno sino, anteriormente encimado por uma cruz de pedra desaparecida. Hoje é impossível tocar o sino, anunciado a chegada de visitantes ao Convento, já que alguém se lembrou de dar um nó na corda que desce pela pedra abaixo, passando por uma argola fixa no granito. É uma pena...


O portão "megalítico" do Convento dos Capuchos

"Bendita e consagrada seja esta porta... que ela seja uma entrada de salvação e de paz; que seja uma porta de Paz por intercessão d'Aquele que si mesmo chamou 'A Porta', Nosso Senhor Jesus Cristo", citação por Jean Hani, em "O simbolismo do Templo Cristão".

Portão de pedra localizado algumas dezenas de metros acima da Capela
do Ecce Homo, ou de São Sebastião, na Cerca do Convento (clique sobre a imagem para a ampliar).

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Cruz de madeira do Alpendre da Portaria

Existe no alpendre da portaria do Convento uma magnífica Cruz de madeira sobre a qual se encontra pintada a figura de um Irmão crucificado.

Por hora não nos deteremos neste belíssimo pormenor, de inesgotável carga simbólica... o meu objectivo é mesmo chamar a atenção da tutela para o facto de, sobre a Cruz, se ter instalado um ninho de pássaros, o que não representaria qualquer problema se não fossem as fezes de ave extremamente corrosivas e nocivas para este tipo de património.

(Fotografia de 15/02/2009)

Creio não estar errado ao afirmá-lo, mas se estiver... que se ignorem estas linhas, e se dê às aves o prazer de beneficiar do abrigo do alpendre, facto que muito haveria de agradar aos frades de outrora, e em particular ao primeiro dos frades da Ordem, Francisco de Assis.

Se por outro lado se confirmar o meu receio, penso que seria urgente transferir dali o ninho, evitando fezes de ave sobre as tábuas, já de si tão antiga, deteriorada e com as cores da pintura tão apagadas...

A porta da Sala do Capítulo

Desaparecida há vários anos (a fotografia em baixo é de 1994), a magnífica porta revestida a cortiça da Sala do Capítulo é, tanto quanto sei, um dos elementos em falta no Convento de que não se conhece o rasto.

Há uns anos atrás dizia-se que teria sido levada do Convento por alguém da DGF (Direcção Geral de Florestas), e que teria tido como destino a casa particular dessa mesma pessoa (atenção que não estou a sugerir que a porta se encontre a servir de decoração na referida casa, apenas que saiu do Convento e não foi colocada em instalações da tutela).

Seria muitíssimo interessante saber onde está... ou se ainda existe. E em caso afirmativo, devolvê-la - devidamente recuperada - ao local de onde nunca deveria ter saído.

Carta de D. Pedro II do Brasil a D. Fernando II de Portugal

Em Fevereiro de 1879, D. Pedro II do Brasil escreve uma longa carta a D.Fernando II, cujo conteúdo não vamos aqui tratar, por fugir ao âmbito do Blog, mas cuja leitura aconselho vivamente (para aceder ao texto clique aqui).

Interessa-nos, no contexto dos Capuchos, uma breve referência do Imperador do Brasil aos pic-nics realizados em Cintra e no Convento da Cortiça, que de acordo com a sua perspectiva se diferenciavam, no género - na qualidade, diria eu, tentando simplificar a expressão -, de outros realizados noutros locais (e provavelmente com outros protagonistas...):

"Então erão es pic-nics de outro género, e por isso fugitivas lembranças deixaram elles, o que não sucede com os de Cintra e do Convento da Cortiça".

D. Pedro II e D. Fernando II no Convento dos Capuchos. Que belos dias certamente aí passaram os dois Reis, uma imagem que a Imaginação poderá recriar dentro daqueles que confiam nessa maravilhosa benção do Coração (sendo a imaginação as imagens que no nosso centro corporal têm origem).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cartas e Narrativas sobre o Convento (3)

Da obra "The Diary of John Cam Hobhouse"

* * *

Wednesday July 12th 1809

July 13. asinorum chorus at conventionum "Nossa senhora de Pena", ubi quatuor monachi ex ordine St Hieronymi – pauperes – non ireligans confectorum – ad conventum cognominatum de Cork in excelsior regione montium devenimus – fratram 17 Francescani secundi ordinis severessimi – nec carne neque vino utuntur, flagellis se secant – nobis in horticulo monstrabant cellulam subterraneum, ubi talis inscriptio:

Hic Honorius vitam finivit
atque ideo cum DEO
vitam revivit
obit 1632 –

nihilominus illorum Abbatus qui super mensam petream vini casei panis et Orangeorum proatendebat non immundam commessationem, ubi fuit hilaris, atque in parvelâ subterrenea ecclesiâ aliquid and posthemis nobis. cantabat – alta linguentes and alles revisimus. Collares que, villam formossissimam – vinum Claretto, non dissimilam feracem – valedixi Monsterratanae oedi – Palatiumque Marialvae praeter euns Cintram reverti – ubi prand, cum clerico Turner … bene docto – nox Cintrae

* * *

Tradução para inglês: Tuesday July 13th [sic: for "12th"]. Asses braying. To the St Jerome monastery at "Nossa Senhora de Pena" where live four monks – poor – not badly dressed. To the Cork convent in the higher hilly region – seventeen brothers from the second and strictest Franciscan order who take neither meat nor wine, and indulge in flagellation. They showed us an underground cell in their garden, with this inscription: "Hic Honorius vitam finivit / atque ideo CUM DEO / vitam revivit / obit 1632." However, their Abbot, who spread out cheese, plums and oranges on a stone table in the tiny underground chapel, was cheerful. We then left the heights – returned to the valley and visited Collares – the villa very beautiful indeed – vine abundant, wine not unlike claret – bade farewell to Montserrat – a palace exceeded only by that of Marialva at Cintra. There we dined with good doctor the Rev. Turner – night at Cintra.]

Fonte:
The Diary of John Cam Hobhouse

* * *

Nota: o diário de John Cam Hobhouse existe publicado em língua portuguesa pelos Livros Horizonte, com notas de Francisco José Magalhães.

Cartas e Narrativas sobre o Convento (2)

Da obra "Letter written durind a Journey in Spain and a short residend in Portugal" - Carta XXVIII, por Robert Southey
(publicado em 1808)

"(...) Visitámos o Convento da Cortiça: onde me foi mostrada a Cova na qual um Eremita viveu doze anos; um pequeno buraco do tamanho de uma toca, no qual as penas passadas lhe garantiram um lugar no Céu, fazendo fé na inscrição:

Hic Honorius,
vitam finivit,
Et ideo cum Deo
vitam revivit.
obit 1596.

Uma inscrição como esta não seria, provavelmente, imprópria num país protestante.

Here, caverned like a beast, Honorius dwelt
In self-denial, solitude, and prayer,
Long years of penance. He had rooted out
All human fellings from his heart, and fled
With fear and loathing from all human joys
As from perdition. But the çaw of Christ
Enjoins not this. To aid the fatherless,
To heal the sick, to be the pooor man's friend,
And in the wounded heart pour gospel balm,
These are the active duties of the law
Which whoso keeps receives a joy on earth,
Calm, constant, still increasing, preluding
The eternal bliss of heaven. Yet! mock not thou,
Stranger, the anchorite's mistaken zeal!
He painfully his painful duties kept,
Sincere though erring. Stranger, dost thou keep
Thy better, easier law but half as well?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Cartas e Narrativas sobre o Convento (1)

Da obra "Portugal Illustrated"
pelo Reverendo W.M. Kinsey, B.D.
(publicada em 1829)

* * *

Na obra "Portugal Illustrated", verdadeiro livro de viagem por alguns dos mais belos lugares do nosso país, o autor refere a sua visita aos Capuchos, onde foi acolhido e guiado por aquele a quem chama "o Guardião da Fraternidade", mais tarde identificado como Frei Francisco da Circuncisão.

Refere o autor da crónica que a irmandade, da Ordem Franciscana, contava então com dezoito membros, número que variou ao longo dos últimos anos da ocupação do Convento, como veremos pela comparação com outras narrativas, pouco distantes no tempo desta que nos ocupa.

Segue-se uma descrição do Convento, que se inicia no Terreiro das Cruzes, no qual se situa o "pórtico", definido por "duas pedras de formam um arco no ponto de união". Subindo um pouco mais, o autor refere-se ao pátio fronteiro ao Alpendre da igreja conventual, e em especial à bonita fonte de água límpida ("pretty fountain of clear water"), na qual se encontrava então - no pequeno nicho de pedra hoje vazio - uma imagem de Nossa Senhora da Rocha. Onde se encontrará?

O ambiente é descrito pelo viajante como sereno, fresco e marcado pela presença das árvores da cortiça, que emprestam ao lugar uma luz especial (“dim religious light”).

Ali terá ficado o narrador, bem como aqueles que o acompanhavam, algum tempo à conversa, sendo seguidamente convidado por Frei Francisco a visitar o seu jardim de delicadas flores, onde existiam – é a narrativa que o diz – pequenos lagos contendo peixes dourados.

O autor fala-nos depois, da Capela do Senhor dos Passos (mas não do telheiro/alpendre, nem do frade crucificado pintado sobre a cruz de madeira que domina o lugar...), seguindo para a “Capela Subterrânea, que é a maior” do Convento.

Sobre a imagem d'O Cristo com a Cruz sobre as costas refere: “We observed, over the high altar, a figure of our Saviour, with a glory and crown on the head, appareled in a crimson robe of silk, and leaning upon a cross, which his long tresses of hair partially concealed. The Passion is represented on the side-walls in Dutch tiles, and the images of St. John and St. Francis appear to be regarding the holy subject with intense interest. On the outside of the altar railing, and to the left hand, is the tomb of St. Honorius, and contiguous to it, as the place of greatest distinction, the cenotaph of D. Alvaro de Castro, the founder of the convent in the year 1564, and under the papacy of Pius IV.”

A descrição é confusa, e mistura elementos da Capelinha do Alpendre com as imagens e lápide da Igreja conventual. Interessante, ainda assim, a indicação exacta da localização da última morada de Honório que é, a par de Frei Agostinho da Cruz, o mais célebre frade que viveu no Convento da Santa Cruz: "On the outside of the altar railing, and to the left hand, is the tomb of St. Honorius, and contiguous to it, as the place of greatest distinction, the cenotaph of D. Alvaro de Castro". O túmulo de Honório, aos pés da lápide evocativa dos fundadores do Convento.

Ali, naquele lugar maravilhoso, Frei Francisco entoou perante os presentes a lindíssima antífona Asperges me Domine ("Compadece-te de mim, Senhor", Salmo 51), o que foi muito do agrado dos visitantes.

"Asperges me, Domine, hyssopo, et mundabor: lavabis me, et super nivem de albabor. Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam tuam. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum. Amen."

O narrador refere-se ao momento nos seguintes termos: "After hearing our friend Francisco da Circumcizao chaunt the Asperges me Domine, and expressing, of course, our admiration of his fine deep bass voice, as well as of the curious pulpit, let into the wall, of his own invention, and of which he appeared extremely proud; we inspected the small narrow cells of the convent (...)".

Avançando para a zona das celas, já então visitável apesar de ocupadas pelos membros da comunidade arrábida, o narrador descreve-as como "nada mais do que cavidades na pedra, forradas de cortiça e fechadas por portas de cortiça, como protecção contra o frio e a humidade". Lamenta todavia, certamente depois de informado por Frei Francisco, que durante o Inverno nem a cortiça valha aos pobres frades, já que as pedras que entram pelas celas dentro escorrem água, devido à humidade própria do lugar, encharcando os cobertores.

Seguem-se observações do autor sobre o modo de vida no Convento: refere Kinsey, na sua narrativa sobre o Convento, que o espírito severo e ascético de Honírio havia já então abadonado a comunidade de frades. Em todo o caso, acrescenta que Frei Francisco foi o único frade que viu durante a visita, pelo que se torna difícil encontrar justificação para a sua afirmação anterior, a não ser que Frei Francisco assim o tivesse dito, o que não é referido no texto.

Para comer, os visitantes tiveram pão servido às fatias em pratos de cortiça, e para beber o famoso vinho de Colares, e depois de ouvirem Frei Francisco exaltar as qualidades de Honório, visitaram a sua Cova, localizada próxima do Convento.

Diz Kinsey que ali Honório se elevou à santidade, cumprindo uma longa penitência de trinta e cinco anos. Este período é incerto, já que outras cartas e outras narrativas referem doze anos... seja como for, muito tempo para se viver numa pequeníssima cova formada por blocos graníticos serranos.

O texto prossegue com a transcrição dos versos de Southey dedicados a Honório, e que dizem assim:

"(...) Yet! mock not thou,
Stranger, the anchorite's mistaken zeal!
He painfully his painful duties kept,
Sincere though erring. Stranger, dost thou keep
Thy better, easier law but half as well?"

E assim termina o texto do Reverendo W.M. Kinsey, que prosseguiu a sua viagem por terras portuguesas.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Capela do Senhor Crucificado


No ponto mais alto da Cerca do Convento dos Capuchos existe, escondida entre as pedras que fecham aquele monte da Serra de Sintra, uma Capelinha que de acordo com as antigas crónicas relacionadas com os Capuchos era dedicada ao culto do Senhor Crucificado.


A pequena gruta é aparentemente natural, e nela existe um belíssimo mas degradado altar, sobre o qual se erguia - há muito tempo - uma magnífica Cruz de que aqui se reproduz uma fotocópia de fotografia.

Fotografia incluída no trabalho trabalho da cadeira de Problemática das Áreas Históricas (Mestrado em Planeamento Regional e Urbano, UTL), da autoria de João Alexandre da Silva Rocha Pinho (Outubro de 1997) - Disponível no Centro de Documentação da DGF.

O altar contém, como é possível verificar nas fotografias que junto publico, frescos muito provavelmente contemporâneos da Capela do Ecce Homo (ou de São Sebastião, segundo outros), existente nas imediações do Convento, e na qual nos deteremos noutro momento.

Por hora fica a referência à Capela, e o apelo à tutela no sentido de lhe devolver alguma da dignidade perdida, nomeadamente através da limpeza e recuperação (tanto quanto possível) do muitíssimo degradado altar (o que é absolutamente natural, já que se trata de um espaço especialmente exposto aos agentes naturais que contribuem para a deterioração deste tipo de materiais).

Profunda preocupação...

A visita que ontem realizei ao Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra provocou em mim um misto de sentimentos, combinação de uma enorme alegria, consequência do regresso a um espaço de beleza ímpar, com a tristeza de o ver cair - anos após anos - num esquecimento que faz doer a alma.

Sejamos claros: o Convento dos Capuchos está numa situação extremamente débil, que pode piorar muito rapidamente se nada for feito para inverter o longo e cada vez mais acelerado processo de degradação material há muito iniciado!

Tenho para mim, porque a realidade assim me leva a concluir, que os Capuchos são a pedra no sapato das sucessivas tutelas. Centrando-me na actual, não é difícil concluir que o Convento é o parente pobre dos Parques sob controlo da Sociedade PSML, razão pela qual o investimento (não apenas mas também financeiro) realizado pela empresa nos diferentes espaços que tutela é tão desiquilibrado, e desajustado face às necessidades dos mesmos.

O Convento é um espaço incómodo cuja situação se vai arrastando e relativamente ao qual poucos se manifestam. Pessoalmente, não compreendo o porquê desta secundarização de um eremitério do século XVI, ímpar em vários planos da sua existência, e cuja valorização deveria estar entre as principais prioridades dos poderes locais que verdadeira capacidade de decisão. Haverá quem me possa esclarecer?

Soube ontem, porque passei grande parte do dia nos Capuchos, que há mais de um ano que o Convento não tem pessoal suficiente para garantir a segurança do espaço e dos seus visitantes. Esteve muitos meses sem guias ou guardas, e actualmente conta com uma pessoa - o sr. Joaquim - que naturalmente tem direito a descansar, e por isso não se encontra nos Capuchos 365 dias por ano. Ontem, por exemplo, não estava lá.

Ora quer isto dizer que há um número significativo de dias por ano em que o Convento se encontra entregue a si mesmo, bem como ao bom senso das pessoas que o visitam. E se é verdade que a generalidade das pessoas - compreendendo ou não o espaço - respeitam as regras elementares de bom comportamento dentro de património classificado, outros há que aproveitam a falta de controlo e a ausência de pessoal da tutela para dar expressão prática à total falta de educação.

A família Dias, de Loures, esteve no Convento em Agosto passado. Pelo menos é o que diz a mensagem que, orgulhosamente, deixaram na parede da Biblioteca, da qual devem ter saído satisfeitos com a triste cicatriz (mais uma) que deixaram numa parede com 449 anos de idade...

Fê-lo fundamentalmente por dois motivos:

- Porque não havia ninguém nas imediações, a circular pelo Convento, capaz de os dissuadir de ali deixar a marca da sua passagem;

- Porque olhando para a(s) parede(s), não foram capazes de compreender que mal tinha acrescentar a sua assinatura às outras tantas, algumas do século XIX, ali existentes!

É assim justo perguntar à tutela o seguinte:

a) Porque razão desapareceram os guias do Convento? Porque razão ontem, dia 15 de Fevereiro de 2009, a única pessoa presente era a funcionária que tinha de assegurar a portaria/bilheteira? Acham que a ausência de pessoal vosso no Convento assegura condições mínimas de segurança para o património em si e para os visitantes que ali se deslocam?

b) Porque razão ainda não se avançou, sem demoras, para a limpeza e recuperação das paredes internas do Convento, com destaque para a cozinha, biblioteca e refeitório? Não compreendem que a existência de gravações e "grafittis" um pouco por todo o Convento é uma verdadeiro convite ao visitante menos sério para deixar - acrescentar - a marca da sua passagem?

Consigo agora compreender, sem dificuldade, o porquê das imagens do Convento estarem guardadas a sete chaves (oxalá que estejam...) em Monserrate. Abandonado como está, o Convento não teria de facto condições mínimas de segurança para as guardar. Seriam roubadas ou, mais provavelmente, vandalizadas. É um facto... e a responsabilidade desse facto é, sobretudo, daqueles a quem foi concedida a tutela de todo o património dos Capuchos.

Ontem acrescentei preocupação à preocupação imensa que já transportava, quando pelas 11h45 paguei o meu bilhete junto ao estacionamento do Convento.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Mais uma razão deste SOS...

Família
Dias
23/08/08
Loures

Parede da Biblioteca do Convento. Fotografia de hoje, 15 de Fevereiro de 2009. Estive entre as 12h00 e as 16h00 dentro do Convento e não vi em momento algum guardas, guias ou responsáveis da tutela. A bilheteira, essa, estava naturalmente a funcionar.

Cartas e narrativas do início do século XIX

O Convento dos Capuchos foi, no século XIX, um local de paragem obrigatória para os visitantes estrangeiros da zona de Sintra. Dessas visitas ao Convento, que então ainda se encontrava habitado por um número variável de frades e outras pessoas que ali procuravam refúgio (como se verá), resultaram várias descrições incluídas em livros editados sobre Portugal.

Do Convento se diz quase sempre que é um lugar de grande rigor e austeridade. Mas depois os viajantes dividem-se nas considerações mais subjectivas que formulam sobre o lugar... Há quem se maravilhe com a beleza dos Capuchos e com a singularidade do Convento, e há quem a ele se refira em tom muitíssimo depreciativo.

Nalgumas das cartas que procurarei traduzir e publicar nos próximos dias são claramente identificados frades (nalguns casos erradamente designados por "monges" pelos viajantes), surgindo nas narrativas nomes como "Frei Francisco da Circuncisão", por exemplo. Alguns costumes do Convento são descritos, e existe também uma certa unanimidade acerca dos alimentos que os frades de Santa Cruz da Serra de Sintra colocavam na pedra que serve de mesa no seu refeitório, para retemperar as forças do estafados visitantes: queijo e vinho de Colares. Uns gostaram muito, e referem-no, outros consideram tanto o queijo como o vinho de muito fraca qualidade.

Noutra crónica há quem descreva a Biblioteca do Convento.

As cartas e narrativas do primeiro quarto do século XIX são elementos bibliográficos fundamentais para compreendermos um pouco melhor a fase final da vida do Convento, já que em 1834 se deu a extinção das ordens religiosas em Portugal. São também a prova de que já nessa altura se visitava o Convento com muita frequência, com os frades a receberem os estrangeiros e pessoas de fora com grande entusiasmo e hospitalidade.

"Cork Convent near Cintra", por Stanfield (1832)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sobre a cortiça no Convento

"No célebre Convento da Cortiça em Cintra, vários artigos de mobiliário são feitos destas árvores, sendo os estranhos que visitam o Convento convidados a levantá-los, de forma a surpreendê-los com a sua extrema leveza."

Do livro "Arboretum and Fruticetum Britannicum," por John Claudius Loudon (1783-1843) - (London, 1838), Vol. III - Part III - p.1914.
(tradução SOS Capuchos)

Apontamento histórico

«Entre ocupações de soldado, conservou virtudes de religioso; era frequente em visitar os templos, grande honrador dos ministros da Igreja, compassivo e liberal com os pobres; devotíssimo da Cruz, cujo sinal adorava com inclinação profunda sem diferença de lugar, ou tempo. E tão religiosamente ardia no culto deste sinal santíssimo; que quiz mais laurar templo à sua memória, que fundar casa a sua posteridade, deixando como em piedosa benção a seu filho Dom Álvaro, que se na graça, ou justiça dos Reys achasse alguma gratidão de seus serviços, do prémio delles edificasse na Serra de Sintra hum convento de Recoletos Franciscanos, advertindo, que com a invocação da Cruz se titulasse a Casa. Dom Álvaro de Castro que das virtudes de tão pyedoso pay, foi legítimo herdeiro, ordenou a fabrica do Convento, menos grande pella magestade do edificio, que pela santidade dos varoens penitentes, que o habitaõ. Sendo a primeira vez mandado pelo Senhor Rey D.Sebastião com embaixada ao Papa Pio IV. impetrou delle privilegiar o Altar do dito Convento para todas as Missas & para o dia da Invenção da Cruz, indulgencia plenaria a todos os que rogassem polas necessidades maiores da Igreja; & advertidamente pola alma de Dom João de Castro: graça tão singular & nova, que não vimos concedida a Principes soberanos.»

Em «Vida de Dom João de Castro, Quarto Visorey da Índia», por Jacinto Freire de Andrade (1597-1657)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma maravilhosa ilustração do Convento

A ilustração faz parte do livro "Portugal Illustrated in a Serie of Letters", pelo Reverendo W.M. Kinsey, e mostra o Convento tal como seria no início do século XIX. A perspectiva é invulgar, e hoje impossível de visualizar in loco, já que me parece ser uma vista do Convento a partir do "Alto das Três Cruzes" (o Gólgota sintrense, ali localizado), e sem vegetação entre este e o cenóbio arrábido. À direita um frade de cajado, e mais ao fundo dois outros irmãos, que se afastam. Perto do Terreiro das Cruzes - no qual se erguia já o conhecido Plátano dos Capuchos -, outro homem junto a um animal. Impressiona a imagem invulgar, e sobretudo os píncaros rochosos ao fundo, hoje tapados por altas árvores.

Para mais tarde fica prometida a publicação da mesma imagem, com melhor qualidade, bem como as notas de Kinsey sobre o Convento.

A Pobreza e os Franciscanos

por Manuel J. Gandra
In "Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica" – pp.45 e 46.
Manuel J. Gandra
Fundação Lusíada, n.º2


"(…) Tema crucial da disputa entre espirituais e conventuais. De acordo com S.Boaventura, a pobreza mais não é que a forma de imperfeição exterior que a perfeição exclusiva de Cristo assumira; por esse motivo devia a sua relativa perfeição à graça de Jesus mais do que ao seu valor intrínseco. Na prática, ambos os grupos concordavam que a pobreza constituía um antídoto contra a cupidez, fonte de todo o mal. Porém, os espirituais consideravam que só o usus pauper, i.e., a prática efectiva da pobreza absoluta, era sinal de pobreza evangélica, não passando tudo o resto de transgressão a esse ideal. A adesão ou recusa do usus pauper tornar-se-ia lealdade ou oposição ao exemplo de renúncia ao mundo de S.Francisco, reverenciado como um quase émulo de Cristo e indigitado guia da renovação espiritual e fundador da nova era a que tal santificação conduziria. A veemência das posições dos fraticelli introduziria um tom apocalíptico no debate, uma vez que entendiam a aspiração aos bens e conhecimentos mundanos, como a marca do Anticristo.

Por seu torno, Pedro Juan Olivi, único espiritual que advogara a obediência aos superiores da Ordem e da hierarquia da Igreja, encarava a pobreza evangélica como um estado de perfeição interior, directamente proporcional à caridade como fonte de todo o bem. Assim, quanto maior a renúncia ao mundo, tanto maior a caridade subjacente a essa renúncia. (…)".

Giotto, Alegoria da Pobreza.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Fotografia | A entrada do Convento

O Rei da Ericeira e o Convento dos Capuchos

É sabido que os últimos dois monarcas portugueses da Dinastia de Aviz, descontado D. António Prior do Crato que não foi aclamado em Cortes, estiveram ligados à história do Convento dos Capuchos da Serra de Sintra. O Rei-Menino D. Sebastião era, segundo se diz, visita assídua dos franciscanos , e o Rei-Cardeal D.Henrique teve papel activo na ampliação do Convento, e passava períodos de reclusão numa cela contígua à capela do Senhor no Horto, erigida no Claustro do cenóbio, por sua ordem.

D. Sebastião ocultou-se deste mundo no Norte de África em 1578 e D.Henrique reinou apenas dois anos, até 1580 (4 de Agosto de 1578 a 31 de Janeiro de 1580). Seguiu-se um muitíssimo conturbado período da história de Portugal, com D. António Prior do Crato a reclamar o trono e a ser aclamado em Santarém, embora não pelas cortes, e com os espanhóis a invadirem Portugal, estabelecendo-se D.Filipe II de Habsburgo como rei de Portugal e dos Algarves, o primeiro da triste dinastia filipina que dominou o país até à restauração de 1640.

Os portugueses reagiram, e vários foram os episódios de resistência à dominação estrangeira, que aqui não cabem narrar. Importa todavia, porque se relaciona com o Convento de Sintra, abordar muito superficialmente a história de Mateus Álvares, chamado pelo povo o "Rei da Ericeira", um dos "falsos D. Sebastião" que apareceram dentro e fora do território nacional, nos anos seguintes à invasão espanhola.

O primeiro "falso D. Sebastião" foi o "Rei de Penamacor". Seguiu-se Mateus Álvares, depois o Pasteleiro do Madrigal e por fim o "Cavaleiro da Cruz", caso em que se envolveu de forma seríssima D. João de Castro, neto do Vice-Rei homónimo e filho bastardo de D. Álvaro de Castro, fundador do Convento dos Capuchos.

Mateus Álvares era natural dos Açores, sendo o seu pai um pedreiro de Vila da Praia, na Ilha Terceira. Emigrou para o continente, e aqui se estabeleceu como noviço no Convento de S. Miguel, no lugar das Gaeiras, junto a Óbidos. Dali saiu para Sintra, onde terá estado - de acordo com o historiador espanhol Herrera - durante alguns meses nos Capuchos, não aguentando todavia o rigor da vida conventual do Convento, por desconforto física e espiritual, ou simplesmente por vontade de não obedecer a regra nenhuma.

É precisamente após a sua saída dos Capuchos de Sintra - onde terá sido contemporâneo de Frei Agostinho da Cruz e de Frei Honório (falecido apenas em 1596), não sendo igualmente de descartar a hipótese de ali se ter cruzado com El-Rei D. Sebastião - que se estabelece como eremita na zona da Ericeira (São Julião).

Identificado por alguns locais como D. Sebastião, devido a parecenças físicas notáveis, Mateus Álvares vestiu a pele do monarca desaparecido, e apoiado por Pe(d)ro Afonso - um homem de Rio de Mouro - organizou a sua corte, com direito a raínha coroada e título nobilitários. Ali resistiu, e chegou a ter às suas ordens um pequeno exército de cerca de 800 homens, oriundos das terras do Oeste entre Torres Vedras e Sintra.

Assustados com as proporções que o caso ganhava, os espanhóis acabaram por esmagar militarmente o pequeno e "rústico" exército do Rei da Ericeira, punindo severamente - com a morte - os revoltosos e os seus líderes.

De acordo com a "Carta de Perdão Geral" de 1585, publicada no livro de Alberto Pimentel sobre este assunto, Mateus Álvares foi detido na Vila de Colares, no sopé da Serra de Sintra. Acabou executado e desmembrado na cidade de Lisboa, no já referido ano, tendo defendido até è morte o sebástico acto de que foi principal protagonista, afirmando que jamais havia querido enganar os portugueses, mas tão só libertá-los da dominação estrangeira, anunciado-se depois como impostor.

Os Capuchos na Literatura

"Eu demoro-me apenas três ou quatro dias. O tempo de cavaquear um bocado com o Absoluto no alto dos Capuchos (...)"

Eça de Queirós
In Os Maias, 1888

Sintra, convento dos Capuchos
Cintra : the ascent to the Cork Convent
W. Colebrooke Stockdale, Souvenir of Cintra, [1875]
litografia
BN E.A. 118(2) A.

Fonte (citação e litografia): BND.

A Igreja Conventual: como era e como está...

Um dos espaços do Convento que de forma mais clara exprime o estado de absoluta degradação a que chegou o retiro franciscano é a pequena Igreja Conventual, localizada junto ao Telheiro/Alpendre da Portaria.

Como as imagens valem, muitas vezes, por mil palavras, junto deixo a ilustração deste sentimento de profunda tristeza que me invade, através de um desenho datado de meados do século XIX, e uma fotografia datada de 2003, retirada do sítio web www.monumentos.pt.

A igreja como era...
"A igreja, vista da porta da entrada, é qual fielmente a representa a nossa estampa. Da porta até à grade que divide a capela mor, mede dezoito palmos; na largura tem treze. É de abobada, e as paredes de calhaus que ali produziu a natureza. Das grades ao altar vão doze palmos: estão vão era a antiga lapa, à qual a mesma rocha serve de tecto. O altar é de pedra polida: nele e nos nichos estavam a imagem do menino Jesus e vários santos. Em cima do sacrário havia um Santo Cristo em marfim, dádiva do Bispo do Porto D. Rodrigo da Cunha. No sacrário havia uma Cruz de prata dourada, com um Santo Lenho, que o fundador D. Álvaro trouxera de Roma; e do lado da epístola um painel com o retrato do beato Honório, que está sepultado na Igreja."

A igreja como está...

Da "grade" não resta nada. O sacrário desapareceu, sendo certo que há uns anos estava em Monserrate, à espera de "restauro". As imagens dos Santos foram ao que se sabe roubadas, e do restante recheio receio bem não ter notícias, apesar de ter a certeza de que as entidades competentes poderão com maior ou menor facilidade investigar o que se fez com aquilo que na Igreja está em falta, despindo-a de uma antiga dignidade que importa e urge recuperar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fotografia | Vista do Terreiro das Cruzes

O Plátano centenário dos Capuchos (Terreiro das Cruzes)

Os Livros do Convento após 1834

De acordo com a obra "Os livros e o liberalismo: da Livraria conventual à Biblioteca Pública", de Paulo J. S. Barata, pelo menos parte dos volumes incluídos na antiga Biblioteca do Convento dos Capuchos de Sintra teria sido absorvida pelo Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos, criada em 1834 após a extinção das Ordens Monásticas.

É pelo menos essa a ideia que fica na lista de Conventos e Mosteiros incluídos nesta transferência de obras: na página 36 da sua obra surgem os nomes dos Mosteiros sintrenses da Pena e da Penha Longa, o Convento da Trindade e o Convento de S. Francisco dos Capuchos da Serra. Em nota de rodapé refere o autor: "Trata-se certamente do Convento de Sta. Cruz, situado no termo de Sintra e fundado em 1560 (BN/AH-22; e Castro, J.B., 1870: 2,34)".

Com franqueza sempre pensei que toda a colecção de livros do Convento tivesse sido adquirida pela família Ribafria, mas pelos vistos assim não foi, e pelo menos parte da Livraria dos Capuchos acabou por ser absorvida pelo Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos, mais tarde integrada na Biblioteca Nacional.

Seria bastante interessante publicar toda a lista de livros que antes de 1834 eram propriedade do Convento (é o que tentarei fazer num futuro próximo), bem como disponibilizá-los (pelo menos em parte) através da internet (mais difícil...).

"Aos cabellos da barba que D. Joaõ de Castro viso-rey da India empenhou á cidade de Goa"

Da obra "Varias rimas ao Bom Jesus e à Virgem Gloriosa Sua Mãi e a Santos Particulares, Lisboa, 1770 [L. 88462 P.]", de Diogo Bernardes, irmão de Frei Agostinho da Cruz - disponível no site da Biblioteca Nacional.

SOS Capuchos

A discussão em torno das questões do património em Sintra tem-se centrado, pelo menos nos últimos anos, em torno de nomes. Tudo parece "pessoalizado", como se o que estivesse em causa não fosse o património em si, mas as pessoas que o gerem.

Não me querendo meter no meio de discussões que tanto parecem entreter os figurões do Concelho - eu, que nem munícipe sou de Sintra... - gostaria apenas de lembrar que todos somos pequeníssimos grãos de areia perante o colosso granítico serrano, e o seu património. E que por isso acredito que as energias gastas em "conversa da treta" melhor seriam empregues a debater os problemas gravíssimos com que se depara a Paisagem Cultural de Sintra, e muito do património que se localiza fora dela, e que cai aos pedaços, dia após dia.

Este Blog é dedicado aos Capuchos, que será quanto a mim o mais mal tratado e esquecido espaço da Paisagem Cultural sintrense. Poucos falam dos Capuchos, e não raras vezes pergunto-me "porquê?". É que se há singularidade dentro da singular Serra de Sintra, ela está bem dentro do seu coração, no centro da Cruz formado pelos cumes que se prolongam de Santa Eufémia à Peninha, e que interceptam os magníficos vales que se estendem para norte e para sul.

Convento da Santa Cruz da Serra. Desta Cruz.

Aos franciscanos pedia-se que, cumprindo o apelo d'O Cristo, tomassem às costas a sua Cruz (Lucas 9:23). Ironia do destino, é sobre o Conventinho que hoje a penosa Cruz se suporta. Quanto tempo aguentarão as suas paredes de palha e argila? Quantos anos aguentaram, intocados, os seiscentistas frescos do Reinoso? Por quanto tempo mais se vai adiar a restituição ao espaço (nem que seja num adaptado antigo armazém, adjacente à Capela do Senhor do Horto) do recheio do Convento? Tantas perguntas que poderia acrescentar, sem resposta...

A comunidade sintrense, os seus figurões e associações locais, poderão continuar a abordar o acessório, entretidos em questões de "lana caprina" normalmente motivadas por pequenas invejas, antipatias entre pessoas, falta de imaginação... Nada de novo, e pelo contrário tudo "coerente com os tempos que cumprem, invariavelmente, as determinações qualitativas do ciclo" (Carlos Dugos)..

Este projecto procurará, pelo contrário, ignorar os nomes, centrando-se nas ideias. Aqui a única preocupação é o Convento.

Espaço aberto a todos, pedem-se contribuições. Fotografias, desenhos, vídeos, opiniões, textos (antigos ou actuais)... enfim, tudo o que contribuir para:

a) Um melhor conhecimento dos Capuchos, dando expressão prática à recomendaçãod a UNESCO acerca da necessidade de utilizar a internet para melhor dar a conhecer o património classificado;

b) Informar todos os interessados sobre a actual situação do Capuchos, em matéria de conservação;

c) Perspectivar soluções para os problemas identificados.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Os frades terracota semi-enterrados (actualizado)

Um dos espaços simbólicos mais importantes do Convento localiza(va)-se num dos corredores que sai do Telheiro junto à Capela do Senhor dos Passos, e que também dá acesso à Igreja Conventual. Trata-se do pequeno corredor que conduz directamente ao pátio do tanque octogonal (o "claustro" do Convento).

Neste corredor (ver fotografia em cima, registo de 1994) existiram em tempos duas imagens de rara beleza, expressões fortes e denunciadores de estados de Iluminação. Dois frades capuchos, que semi-enterrados (um pela cintura, outro pelo diafragma), se sujeitaram durante séculos à interpretação dos seus irmãos habitantes do lugar, e depois durante décadas ao olhar indiscreto dos visitantes do Convento.

Acontece que, durante a década de 90 (salvo erro), um - ou vários - vândalo decidiu arrancá-los dali, sem sucesso. E para prevenir futuras tentativas de roubo, a tutela de então resolveu enchê-los de cimento (as imagens são originalmente ocas), facto que por si só dá expressão prática ao ditado popular "foi pior a emenda do que o soneto", até tendo em conta que o tal enchimento conflitua bastante com a correcta conservação das imagens.

A verdade é que hoje (e desde há vários anos) os dois frades terracota estão ausentes do Convento...

Sei que há uns anos se encontravam em Monserrate, num género de armazém da PSML, juntamente com o Sacrário da Igreja do Convento (de que falaremos nos próximos dias) e com outras peças pertencentes ao recheio dos Capuchos. Onde estão as imagens dos frades? O que já foi feito para as recuperar, e restituir ao seu lugar original?

(Fotografia de António Passaporte, anos 50)

Leitura adicional: Terracota, na Wikipédia.

A pia de água benta do Portal da Igreja

No lado direito da porta que dá acesso à pequena Igreja Conventual dos Capuchos existiu, durante muito tempo, uma pequena pia contendo água benta (ver imagem a preto e branco, em baixo). Este elemento do portal foi todavia destruído no final da década de 90, dele restando apenas uma memória suportada em imagens.

Aspecto actual do portal de acesso à Igreja. À direita, o pequeno pilar que suportava a Pia, hoje desaparecida.

Fotografia da Pia de Água Benta, incluída no livro "O Convento dos Capuchos: o que é e o que foi", edição de autor do Dr. Vítor Pereira Neves (1997).

sábado, 7 de fevereiro de 2009

SOS Azulejos (2ª actualização)

Paínel desaparecido dos Capuchos há mais de 20 anos, em 1984. Fotografia retirada do Site do Projecto SOS Azulejos (Polícia Judiciária), com a seguinte legenda: "Cerca de 15 azulejos, parte de um painel, furtado em 7/10/1984 da Capela do Sr. Dos Passos do Convento dos Capuchos em Sintra".

Se souber onde se encontra este painel, contacte as autoridades policiais.

Aspecto da capela, ainda com imagem do Senhor dos Passos, no início da década de 50. Repare-se que já então havia uma parte do painel em falta
(Fotografia de António passaporte).

Descrição do revestimento da Capela, por J.M. dos Santos Simões, no seu "Azulejaria em Portugal no século XVIII" (página 320):

"No famoso eremitério dos franciscanos arrábidos bem conhecido dos turistas - o Cork Convent dos ingleses - erigido entre fragas graníticas da Serra de Sintra, em 1560 a pedidos dos Castros, senhores da Serra, ainda se conservam os azulejos da Capela do Senhor dos Passos, cavada entre penhascos, cuja porta dá para o alpendre da portaria.

São azulejos dos meados do século XVIII, de cerca de 1740, de pintura azul, figurados, tendo nas paredes que ladeiam o pequeno altar as cenas da Flagelação e da Coroação de Espinhos (NdEd. Os dois painéis encontram-se actualmente incompletos).

A abóbada, também azulejada, é compartimentada em pequenos quadros com emblemas da paixão, entre estrelas. Sobre a porta, do lado interior, o tímpano contém o quadro de Jesus Crucificado".

(Fotografias de 1994)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A lenta degradação do Convento...

"Na parede, do lado esquerdo, alto relevo partido com representação da Virgem e o Menino emoldurados por um dossel segurado por anjos, entre duas portas de verga recta." - Ficha do monumento na página www.monumentos.pt.

(Telheiro do Convento, fotografias de 1994 e 2003)

O Convento: singularidade

Qual pérola escondida num vale em forma de concha (material decorativo e altamente simbólico que os capuchinhos usaram em inúmeras divisões), o Convento tem um conjunto de características que o tornam absolutamente ímpar. Destaca-se, por exemplo, a forma exemplar como foi enquadrado na paisagem natural do lugar, aproveitando os enormes e protectores penedos como elementos estruturantes da singela construção e respeitando a paisagem natural circundante, em que se integrou na perfeição.

É possível observar que o Convento não se prolonga apenas de baixo para cima (ou seja, do sopé do monte para um ponto mais elevado, mas também pela terra adentro), sendo que em divisões como a Capela Conventual temos a impressão de entrar numa gruta (ideia reforçada pela ombreiras das portas, em cortiça) e estar, por completo, no interior da terra.

São também as proporções únicas em que foi construído que o tornam marcadamente diferente dos conventos convencionais – nos Capuchos, a regra franciscana era cumprida com todo o rigor, pelo que a austeridade material por ela consagrada não era, como no caso de outras ordens e outros conventos, ultrapassada na prática diária, em qualquer altura. Os capuchos viviam quotidianamente o exemplo determinante de S. Francisco de Assis, o que é possível constatar em cada recanto deste local de forma mais evidente do que em qualquer outro.

Instalados no verde coração da Serra de Sintra, os frades capuchos do Convento de Santa Cruz misturavam-se com as colossais pedras de Sintra, falavam com as murmurantes árvores, os límpidos regatos, os animais da floresta e amavam o chão que pisavam. É por isso que o Convento dos Capuchos não se situa apenas na Serra. Ele é a própria Serra, na medida em que não vive dela, mas antes para ela, e a partir dela enquanto Templo por excelência de Deus e da Natureza.

Rui Vasco Silva