quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A Pobreza e os Franciscanos

por Manuel J. Gandra
In "Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica" – pp.45 e 46.
Manuel J. Gandra
Fundação Lusíada, n.º2


"(…) Tema crucial da disputa entre espirituais e conventuais. De acordo com S.Boaventura, a pobreza mais não é que a forma de imperfeição exterior que a perfeição exclusiva de Cristo assumira; por esse motivo devia a sua relativa perfeição à graça de Jesus mais do que ao seu valor intrínseco. Na prática, ambos os grupos concordavam que a pobreza constituía um antídoto contra a cupidez, fonte de todo o mal. Porém, os espirituais consideravam que só o usus pauper, i.e., a prática efectiva da pobreza absoluta, era sinal de pobreza evangélica, não passando tudo o resto de transgressão a esse ideal. A adesão ou recusa do usus pauper tornar-se-ia lealdade ou oposição ao exemplo de renúncia ao mundo de S.Francisco, reverenciado como um quase émulo de Cristo e indigitado guia da renovação espiritual e fundador da nova era a que tal santificação conduziria. A veemência das posições dos fraticelli introduziria um tom apocalíptico no debate, uma vez que entendiam a aspiração aos bens e conhecimentos mundanos, como a marca do Anticristo.

Por seu torno, Pedro Juan Olivi, único espiritual que advogara a obediência aos superiores da Ordem e da hierarquia da Igreja, encarava a pobreza evangélica como um estado de perfeição interior, directamente proporcional à caridade como fonte de todo o bem. Assim, quanto maior a renúncia ao mundo, tanto maior a caridade subjacente a essa renúncia. (…)".

Giotto, Alegoria da Pobreza.

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