É possível observar que o Convento não se prolonga apenas de baixo para cima (ou seja, do sopé do monte para um ponto mais elevado, mas também pela terra adentro), sendo que em divisões como a Capela Conventual temos a impressão de entrar numa gruta (ideia reforçada pela ombreiras das portas, em cortiça) e estar, por completo, no interior da terra.
São também as proporções únicas em que foi construído que o tornam marcadamente diferente dos conventos convencionais – nos Capuchos, a regra franciscana era cumprida com todo o rigor, pelo que a austeridade material por ela consagrada não era, como no caso de outras ordens e outros conventos, ultrapassada na prática diária, em qualquer altura. Os capuchos viviam quotidianamente o exemplo determinante de S. Francisco de Assis, o que é possível constatar em cada recanto deste local de forma mais evidente do que em qualquer outro.
Instalados no verde coração da Serra de Sintra, os frades capuchos do Convento de Santa Cruz misturavam-se com as colossais pedras de Sintra, falavam com as murmurantes árvores, os límpidos regatos, os animais da floresta e amavam o chão que pisavam. É por isso que o Convento dos Capuchos não se situa apenas na Serra. Ele é a própria Serra, na medida em que não vive dela, mas antes para ela, e a partir dela enquanto Templo por excelência de Deus e da Natureza.
Rui Vasco Silva
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