O Convento, todavia, seria apenas erigido em 1560, por ordem de D.Álvaro de Castro, filho do antigo Vice-Rei da Índia D.João de Castro, que falecera 12 anos antes, em Goa.
(Retrato de D. João de Castro da autoria de Charles Legrand, BN)
Conta-nos a tradição local que no local onde hoje se ergue o convento, num momento de descanso durante uma caçada, D.João de Castro teria adormecido e que em sonhos lhe teria sido comunicada a necessidade de naquela lugar se construir um templo com as características de que se veio a revestir.
Infelizmente, o Vice-Rei não o veria durante a sua vida, confiando essa mesma tarefa ao seu filho, que construiu o convento capuchinho dentro da área da sua propriedade em Sintra – a conhecida Quinta da Penha Verde. É precisamente isso que se pode ler na lápide colocada na Igreja Conventual.
A construção do Convento coincide com uma época importantíssima da história de Portugal – o reinado de D.Sebastião. O jovem rei, de quem era próximo o fundador dos Capuchos, poderá ter passado nos Capuchos um período de reclusão antes da sua partida para África, pensando-se que tenha sido neste local que o 16º rei de Portugal após D.Afonso Henriques escreveu as cartas que convocaram a nobreza nacional para um novo empreendimento nas costas da África do Norte.
O Convento foi entretanto ampliado, por Ordem do Cardeal Rei D.Henrique, que mandou erigir a Capela que hoje é possível visitar no pátio interior do Convento, junto ao tanque octogonal, e que hoje se encontra alterada e profundamente vandalizada (a imagem de Cristo foi arrancada, as paredes encontram-se repletas de gravações que remotam ao século XIX, etc.)...
Do cimo dos 8 degraus que se elevam desde o chão à entrada da Capela, e segundo a Crónica dos Arrábidos, o próprio Cardeal Rei terá celebrado missas, utilizando para isso um pequeno altar entretanto desaparecido mas que é possível observar na conhecida gravura de William Burnett, datada da década de 30 do século XIX.
A fachada principal da capela, erigida entre enormes pedras, encontra-se ainda hoje decorada com dois frescos do início do século XVII (um de santo António e outro de S.Francisco), e que alguns estudiosos atribuem ao pintor da época André Reinoso.
Já depois da derrota portuguesa em Alcácer-Quibir, e da consequente subida ao poder da dinastia filipina, D.Filipe I visitou o Convento franciscano, tendo nessa altura proferido a célebre afirmação de que possuía nos seus dois reinos as duas jóias mais preciosas: o Mosteiro do Escorial (pela riqueza material) e o Convento dos Capuchos de Sintra (pela sua simplicidade e grandeza espiritual).
Outra data significativa na vida do Convento situa-se no ano de 1596, quando, segundo a lápide que encima a pequena gruta onde terá vivido, morreu um dos capuchinhos fundadores daquele espaço, Frei Honório.
Não existem grandes certezas acerca da vida deste capuchinho de Sintra. Segundo alguns seria um eremita que habitava previamente a área onde se veio a construir o Convento e que terá sido acolhido pelos franciscanos, passando a fazer parte da comunidade de 8 capuchinhos que o habitavam. Uma conhecida lenda, de que nos fala o Visconde de Juromenha no seu “Cintra Pinturesca”, conta a história de Honório e o encontro que terá tido nas imediações do convento com uma mulher misteriosa. Terá sido depois deste encontro que Honório se recolheu à referida gruta, muito perto do Convento, onde viveu até uma idade muito prolongada, não chegando por pouco aos 100 anos de vida...
Segundo José Alfredo da Costa Azevedo, que cita no seu “Velharias de Sintra” o já referenciado Visconde de Juromenha, o Convento terá tido ao longo dos seus quase quatro séculos e meio diversos “proprietários”, tendo chegado a ser administrado pela Misericórdia de Sintra, por vontade de um dos Castros – D.Francisco de Castro, Bispo da Guarda.
Em 1834, precisamente na época da extinção das Ordens Monásticas no nosso país, o Convento Capuchinho é vendido ao 2º conde de Penamacor, de seu nome António de Saldanha Albuquerque e Castro Ribafria, que sobre ele terá tido preferência na compra, por manter relações familiares com os Castros da Penha Verde.
Apenas quatro décadas mais tarde, foi a vez de Francis Cook, 1º Visconde de Monserrate, adquirir a posse material do Convento. Parece ser dessa época a construção de um conjunto de divisões junto à horta do convento, mantendo-se ainda hoje de pé, mas em ruínas. Outro vestígio da presença de Cook nos Capuchos são as marcas junto aos antigos caminhos, com a gravação das iniciais VM (que significam Visconde de Monserrate).
No início do século XX é chegada a vez de ser o Estado Português a adquirir o espaço do convento. Assim, e passadas algumas décadas após a extinção das ordens monásticas, começa um período de aceleração da degradação material do convento, que foi sofrendo ao longo dos anos obras de restauro que se limitaram a “lavar-lhe a cara”, mas nunca a intervir de forma global e decidida.
É na segunda metade do século XX que se iniciam obras nos Capuchos: recuperam-se telhados e algumas dependências (1952), efectuam-se obras ao nível das canalizações (1953) e procede-se à manutenção dos telhados do Convento (fim da década de 50). Outras obras se sucedem (1967, 1970, 1983 e 1994), mas nunca é verdadeiramente travado o processo de rápida degradação dos espaços conventuais.
É também nesta altura que é criado, nas imediações do convento, o Parque de Campismo dos Capuchos. O Parque foi entretanto encerrado.
Nas últimas décadas do séc.XX o Convento é sujeito, de forma regular, a práticas hediondas, de entre as quais se destacam o roubo de imagens e a destruição/vandalização de algumas das suas divisões.
Foi já em Setembro de 1999, precisamente para impedir a continuação destas práticas e salvaguardar e promover uma recuperação urgente do Convento dos Capuchos que a AACA foi fundada, procurando assim devolver-lhe a dignidade material que já teve e o silêncio próprio da paz espiritual de outrora.
Pouco tempo depois foi criada uma sociedade anónima de capitais públicos com vista a recuperar, a manter e a promover comercialmente diversos locais da Serra de Sintra, entre eles o Convento dos Capuchos. A empresa tem por nome "Parques de Sintra, Monte da Lua" (PSML) e até à data deste documento a tutela deste espaço tem-lhe pertencido.
Em Fevereiro de 2003, a Câmara Municipal de Sintra passa a ser accionista maioritária da empresa PSML.
A 'tutela espiritual' do espaço é actualmente do Patriarcado de Lisboa.
Rui Vasco Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário