segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Profunda preocupação...

A visita que ontem realizei ao Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra provocou em mim um misto de sentimentos, combinação de uma enorme alegria, consequência do regresso a um espaço de beleza ímpar, com a tristeza de o ver cair - anos após anos - num esquecimento que faz doer a alma.

Sejamos claros: o Convento dos Capuchos está numa situação extremamente débil, que pode piorar muito rapidamente se nada for feito para inverter o longo e cada vez mais acelerado processo de degradação material há muito iniciado!

Tenho para mim, porque a realidade assim me leva a concluir, que os Capuchos são a pedra no sapato das sucessivas tutelas. Centrando-me na actual, não é difícil concluir que o Convento é o parente pobre dos Parques sob controlo da Sociedade PSML, razão pela qual o investimento (não apenas mas também financeiro) realizado pela empresa nos diferentes espaços que tutela é tão desiquilibrado, e desajustado face às necessidades dos mesmos.

O Convento é um espaço incómodo cuja situação se vai arrastando e relativamente ao qual poucos se manifestam. Pessoalmente, não compreendo o porquê desta secundarização de um eremitério do século XVI, ímpar em vários planos da sua existência, e cuja valorização deveria estar entre as principais prioridades dos poderes locais que verdadeira capacidade de decisão. Haverá quem me possa esclarecer?

Soube ontem, porque passei grande parte do dia nos Capuchos, que há mais de um ano que o Convento não tem pessoal suficiente para garantir a segurança do espaço e dos seus visitantes. Esteve muitos meses sem guias ou guardas, e actualmente conta com uma pessoa - o sr. Joaquim - que naturalmente tem direito a descansar, e por isso não se encontra nos Capuchos 365 dias por ano. Ontem, por exemplo, não estava lá.

Ora quer isto dizer que há um número significativo de dias por ano em que o Convento se encontra entregue a si mesmo, bem como ao bom senso das pessoas que o visitam. E se é verdade que a generalidade das pessoas - compreendendo ou não o espaço - respeitam as regras elementares de bom comportamento dentro de património classificado, outros há que aproveitam a falta de controlo e a ausência de pessoal da tutela para dar expressão prática à total falta de educação.

A família Dias, de Loures, esteve no Convento em Agosto passado. Pelo menos é o que diz a mensagem que, orgulhosamente, deixaram na parede da Biblioteca, da qual devem ter saído satisfeitos com a triste cicatriz (mais uma) que deixaram numa parede com 449 anos de idade...

Fê-lo fundamentalmente por dois motivos:

- Porque não havia ninguém nas imediações, a circular pelo Convento, capaz de os dissuadir de ali deixar a marca da sua passagem;

- Porque olhando para a(s) parede(s), não foram capazes de compreender que mal tinha acrescentar a sua assinatura às outras tantas, algumas do século XIX, ali existentes!

É assim justo perguntar à tutela o seguinte:

a) Porque razão desapareceram os guias do Convento? Porque razão ontem, dia 15 de Fevereiro de 2009, a única pessoa presente era a funcionária que tinha de assegurar a portaria/bilheteira? Acham que a ausência de pessoal vosso no Convento assegura condições mínimas de segurança para o património em si e para os visitantes que ali se deslocam?

b) Porque razão ainda não se avançou, sem demoras, para a limpeza e recuperação das paredes internas do Convento, com destaque para a cozinha, biblioteca e refeitório? Não compreendem que a existência de gravações e "grafittis" um pouco por todo o Convento é uma verdadeiro convite ao visitante menos sério para deixar - acrescentar - a marca da sua passagem?

Consigo agora compreender, sem dificuldade, o porquê das imagens do Convento estarem guardadas a sete chaves (oxalá que estejam...) em Monserrate. Abandonado como está, o Convento não teria de facto condições mínimas de segurança para as guardar. Seriam roubadas ou, mais provavelmente, vandalizadas. É um facto... e a responsabilidade desse facto é, sobretudo, daqueles a quem foi concedida a tutela de todo o património dos Capuchos.

Ontem acrescentei preocupação à preocupação imensa que já transportava, quando pelas 11h45 paguei o meu bilhete junto ao estacionamento do Convento.

1 comentário:

  1. A falta de informação permanece, maninho! Eu também porque não tenho muitos anos de vida, mas também porque a comunicação social só transmite o que lhes realmente interessa, não faz circular este tipo de situação, que é de lamentar ver algo tão admirável e belo a degradar-se desta forma. E é também de lamentar a falta de bom senso dos visitantes dos capuchos e de outros locais de património nacional, que ao deixarem como disses-te e bem, a sua triste marca vão contribuindo para um local mais vandalizado!

    Beijo, horizontes

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