terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Rei da Ericeira e o Convento dos Capuchos

É sabido que os últimos dois monarcas portugueses da Dinastia de Aviz, descontado D. António Prior do Crato que não foi aclamado em Cortes, estiveram ligados à história do Convento dos Capuchos da Serra de Sintra. O Rei-Menino D. Sebastião era, segundo se diz, visita assídua dos franciscanos , e o Rei-Cardeal D.Henrique teve papel activo na ampliação do Convento, e passava períodos de reclusão numa cela contígua à capela do Senhor no Horto, erigida no Claustro do cenóbio, por sua ordem.

D. Sebastião ocultou-se deste mundo no Norte de África em 1578 e D.Henrique reinou apenas dois anos, até 1580 (4 de Agosto de 1578 a 31 de Janeiro de 1580). Seguiu-se um muitíssimo conturbado período da história de Portugal, com D. António Prior do Crato a reclamar o trono e a ser aclamado em Santarém, embora não pelas cortes, e com os espanhóis a invadirem Portugal, estabelecendo-se D.Filipe II de Habsburgo como rei de Portugal e dos Algarves, o primeiro da triste dinastia filipina que dominou o país até à restauração de 1640.

Os portugueses reagiram, e vários foram os episódios de resistência à dominação estrangeira, que aqui não cabem narrar. Importa todavia, porque se relaciona com o Convento de Sintra, abordar muito superficialmente a história de Mateus Álvares, chamado pelo povo o "Rei da Ericeira", um dos "falsos D. Sebastião" que apareceram dentro e fora do território nacional, nos anos seguintes à invasão espanhola.

O primeiro "falso D. Sebastião" foi o "Rei de Penamacor". Seguiu-se Mateus Álvares, depois o Pasteleiro do Madrigal e por fim o "Cavaleiro da Cruz", caso em que se envolveu de forma seríssima D. João de Castro, neto do Vice-Rei homónimo e filho bastardo de D. Álvaro de Castro, fundador do Convento dos Capuchos.

Mateus Álvares era natural dos Açores, sendo o seu pai um pedreiro de Vila da Praia, na Ilha Terceira. Emigrou para o continente, e aqui se estabeleceu como noviço no Convento de S. Miguel, no lugar das Gaeiras, junto a Óbidos. Dali saiu para Sintra, onde terá estado - de acordo com o historiador espanhol Herrera - durante alguns meses nos Capuchos, não aguentando todavia o rigor da vida conventual do Convento, por desconforto física e espiritual, ou simplesmente por vontade de não obedecer a regra nenhuma.

É precisamente após a sua saída dos Capuchos de Sintra - onde terá sido contemporâneo de Frei Agostinho da Cruz e de Frei Honório (falecido apenas em 1596), não sendo igualmente de descartar a hipótese de ali se ter cruzado com El-Rei D. Sebastião - que se estabelece como eremita na zona da Ericeira (São Julião).

Identificado por alguns locais como D. Sebastião, devido a parecenças físicas notáveis, Mateus Álvares vestiu a pele do monarca desaparecido, e apoiado por Pe(d)ro Afonso - um homem de Rio de Mouro - organizou a sua corte, com direito a raínha coroada e título nobilitários. Ali resistiu, e chegou a ter às suas ordens um pequeno exército de cerca de 800 homens, oriundos das terras do Oeste entre Torres Vedras e Sintra.

Assustados com as proporções que o caso ganhava, os espanhóis acabaram por esmagar militarmente o pequeno e "rústico" exército do Rei da Ericeira, punindo severamente - com a morte - os revoltosos e os seus líderes.

De acordo com a "Carta de Perdão Geral" de 1585, publicada no livro de Alberto Pimentel sobre este assunto, Mateus Álvares foi detido na Vila de Colares, no sopé da Serra de Sintra. Acabou executado e desmembrado na cidade de Lisboa, no já referido ano, tendo defendido até è morte o sebástico acto de que foi principal protagonista, afirmando que jamais havia querido enganar os portugueses, mas tão só libertá-los da dominação estrangeira, anunciado-se depois como impostor.

1 comentário:

  1. Boa tarde,
    estudo a ermida de s. juliao, onde o ermitão mateus álvares se enclausurou. Pretendo conhecer bibliografia do historiador espanhol Herrera, referente a mateus álvares.

    Com os melhores cumprimentos
    Cidalia Bento
    TLM: 936828429

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