"Se em todos os aspectos citados até aqui o jardim português se mantêm atrasado em relação aos dos outros povos da Europa, há pelo menos um, em que me parece ter-se-lhe adiantado de bem dois séculos. Refiro-me à concepção naturalista de muitas obras nossas do século XVI, como a Penha Verde e os Capuchos. Nunca mais, e em parte nenhuma se conseguiu um equilíbrio tão perfeito e uma unidade tão completa entre a obra do homem e a da natureza, não como desde o século passado rebaixando o homem ao plano simplesmente natural, mas sim elevando ambos, Natureza e Homem, ao plano divino da criação dentro do conceito católico e franciscano. Não pretendíamos imitar artificiosamente a natureza, mas apenas integrar com raro instinto, na nossa obra, as belezas naturais que encontrámos, fossem elas uma fraga, um velho carvalho ou um vasto panorama. É de notar a preocupação que tivemos de edificar as nossas casas e situar os seus jardins em locais com boa vista, - o que não é para admirar num povo que sempre viveu nas alturas e que quase ignora o que seja a planície.
Foi talvez por este amor da natureza, que o jardim era entre nós a continuação da casa ao ar livre e estava em imediata ligação com ela, o que o desenvolvimento da casa em planta e não em altura facilitava. Quase sempre pelo menos um pequeno terraço se encontrava ao nível do andar de habitação, e as árvores dos nossos jardins emolduram e aconchegam as casas portuguesas."
Texto completo aqui.
Francisco Caldeira Cabral
Fundamentos da AP, pags 129 a 134.
Jardins de Portugal (em Panorama, n.º 15 e 16, Julho de 1943)
Características tradicionais do jardim português
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