Pella mão de Reinozo estão pintadas
muytas figuras de estranha excellência,
tão ricas, tão perfeitas e acabadas,
que não pode ahy auer mór eminência.
Apelles e as mãos mais celebradas
que nesta arte mostrarão mais sciencia
mais sublimada couza e mais divina.
Pese embora o tom laudatório do comentário às pinturas e ao artista que as executou, parece-nos segura a relacionação desta referência poética com os murais em causa neste breve apontamento de campo. Note-se, para mais, que o autor se não refere a "painéis", e sim a "figuras pintadas", o que não faria se se tratasse de peças de altar. Naturalmente, os "frescos" de S.Francisco de Assis e de Santo António de Lisboa são apenas os resíduos de uma decoração fresquista de maiores dimensões, estendida a outras dependências do cenóbio que não só ao exterior da capela-oratório do Cardeal D.Henrique, e hoje limitada àqueles dois murais."
O poema épico sustenta a dúvida, e Vítor Serrão afirma com autoridade: "Naturalmente, os "frescos" de S.Francisco de Assis e de Santo António de Lisboa são apenas os resíduos de uma decoração fresquista de maiores dimensões, estendida a outras dependências do cenóbio que não só ao exterior da capela-oratório do Cardeal D.Henrique, e hoje limitada àqueles dois murais"
Sabendo-se que nenhuma dependência do Convento foi demolida, onde estariam - estarão? - os restantes frescos de André Reinoso? "Escondidos" nas paredes escuras da Igreja Conventual? Ou referir-se-ia o autor do poema épico ao conjunto de murais decorativos mas não figurativos espalhados pelo interior das capelas da Cerca (Senhor do Horto, Ecce Homo / São Sebastião e Senhor Crucificado)? Serrão coloca de lado esta hipótese: "Note-se, para mais, que o autor se não refere a "painéis", e sim a "figuras pintadas", o que não faria se se tratasse de peças de altar".
Legenda, da esquerda para a direita: Murais da parede da Capela do Senhor no Horto, da parede da Capela do Ecce Homo / São Sebastião e do Altar da Capela do Senhor Crucificado (quase indecifrável).
Por outro lado, poder-se-á incluir a imagem do frade crucificado do Alpendre da Portaria no grupo das "muytas figuras de estranha excellência" atribuídas a André Reinoso? Pessoalmente desconheço a autoria da belíssima figura do frade pintado sobre cruz de madeira, embora tecnicamente - e corrijam-me se estiver enganado - não estejamos neste caso perante um "fresco", que se define grosso modo como "Técnica de pintura mural, executada sobre uma base de gesso ou nata de cal ainda húmida - por isso o nome derivado da expressão italiana fresco, de mesmo significado no português - na qual o artista deve aplicar pigmentos puros diluídos somente em água" (Wikipedia).
Trata-se de um tema da maior importância, que merecia maior e mais aprofundado estudo.
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