Quero dizer: o coração da Serra fala directamente ao coração do Homem, e o Terreiro das Cruzes é o primeiro dos espaços do Convento que faz apelo a esse diálogo directo e sem intermediários. Apenas o Convento faz a ponte entre a Terra e do Homem, num diálogo de elevada qualidade telúrica.
O Terreiro das Cruzes eleva-se relativamente à antiga estrada que desce do chamado Cruzamento dos Capuchos, e que se prolonga em direcção ao sopé da Serra, passando próxima do Convento. Ele é um género de balcão sobre o Vale, voltado ao antigo Alto das Três Cruzes, localizado num cume fronteiro, e do qual apenas resta o nome, cruzes... nenhuma.
Para o Terreiro existem dois caminhos: a bonita, mas antiga e gasta, calçada que sobe pelo lado direito; e o caminho sinuoso de terra e pedras a brotar do chão, pela esquerda. Qualquer um dos dois conduz a pequenos torreões de pedra, encimados por bonitas cruzes também de pedra, com secção redonda. Não me cabe a mim fazer interpretações simbólicas do espaço, intrometendo-me no tal diálogo, que deve ser feito sem intermediários... pelo que nada direi nem sobre os pétreos e verdes torreões, nem sobre os caminhos que a eles conduzem.
Chegados a um dos dois, encontramos acessos de cada lado da estrutura de aspecto piramidal. Esquerda e Direita, no acesso ao Terreiro, duas vezes: nos caminhos até aos torreões, e para através destes subir a esta magnífica varanda pentagonal.
É belíssimo, este Terreiro! Espaçoso, se comparado com outros lugares mais nobres do Convento, como o Claustro. Ao centro, como eixo em torno do qual se dispõem os restantes elementos, um maravilhoso Plátano centenário, que aparece já com tamanho considerável nas ilustrações do início do século XIX. Muito terá presenciado este Plátano, que ali colocado, a meia dúzia de passos do Portão do Convento, cumpre verdadeira função de guardião, quase recordando aquelas pedras ou enormes árvores suas irmãs, que tapam as entradas para grutas, tornando-as quase invisíveis até para os mais atentos exploradores.
O Plátano do Convento sofre, segundo me dizem os entendidos, de um tipo de cancro próprio da espécie... Por outro lado, quem hoje olhar para ele vê alguns dos seus ramos severamente encurtados, resultado de uma poda que se teve de fazer, após a queda sobre o Terreiro de um cedro que se encontrava junto à calçada, e que destruiu um dos torreões (precisamente aquele que se encontra no cimo da calçada) e partiu vários braços do Plátano. Aconteceu em Janeiro de 2003, durante uma semana de rigoroso inverno, e que na Serra se manifestou sob a forma de chuvas intensas e ventos fortíssimos.
O episódio da destruição do torreão da calçada foi de facto um acontecimento não controlável pela tutela... o mesmo não se podendo dizer relativamente à sua reconstrução, feita da forma mais lamentável possível, com recurso a técnicas e materiais que nada têm a ver aqueles que se empregavam no momento da construção do terreiro. Resultado: um torreão incaracterístico, em cimento, e que durante muito tempo (anos) não atraiu para si a espessa cobertura de musgos tão própria da Serra e do Convento.
Fotografia: www.monumentos.pt
Seja como for, penso que agora pouco ou nada há a fazer. Não defendo a destruição do torreão, para posterior reconstrução com materiais e técnicas apropriadas... apenas posso lamentar que a tutela não tenha então agido com o mínimo de profissionalismo, e de acordo com os princípios que devem nortear a actuação de uma entidade que tem à sua guarda património histórico classificado.
Voltando ao Terreiro, note-se que entre as duas cruzes que encimam os torreões, e numa posição de destaque neste pentagonal balcão sobre o Vale, encontramos uma belíssima Cruz em tudo semelhante às outras excepto no tamanho, que é maior. Também não se encontra sobre nenhum torreão, mas antes no fecho do pentágono, ponto mais avançado do Terreiro apontado à estrada anteriormente referida.
Curiosamente, ou talvez não, se em Janeiro de 2003 houve uma cruz destruída e outra privada de um dos braços, esta terceira e principal nada sofreu, como se estivesse protegida na sua dignidade de Cruz do Salvador, entre as outras duas dos "ladrões", neste Gólgota sintrense dos Capuchos. O terreiro representará, sem dúvida, o Monte no qual O Cristo foi crucificado entre dois homens comuns, mas o seu simbolismo está longe - muito longe - de se esgotar nesta relação mais evidente.
"Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio." - Evangelho de S. João, 19:17-18.
Ao fundo do Terreiro, um bonito muro de pedra, cortado por um bloco granítico de grandes dimensões, sustem as terras do monte que se eleva para lá deste espaço. Infelizmente, faltam-lhe vários tijolos, o que empresta ao espaço um ar de degradação, que efectivamente existe, e que importa corrigir. Até onde se prolongaria o muro? Quanto tempo aguentará o que resta dele?
Saindo do Terreiro já em direcção ao espaço intra-muros do Convento deparamo-nos com dois enormes blocos de granito, que tocando-se formam o arco do portão que dá acesso ao primeiro pátio interior do cenóbio - do latim cenobium, "lugar onde se vive em comum" - franciscano.
Sobre a maior, que deitada se encontra dentro do Terreiro, existe um pequeno sino, anteriormente encimado por uma cruz de pedra desaparecida. Hoje é impossível tocar o sino, anunciado a chegada de visitantes ao Convento, já que alguém se lembrou de dar um nó na corda que desce pela pedra abaixo, passando por uma argola fixa no granito. É uma pena...
Voltando ao Terreiro, note-se que entre as duas cruzes que encimam os torreões, e numa posição de destaque neste pentagonal balcão sobre o Vale, encontramos uma belíssima Cruz em tudo semelhante às outras excepto no tamanho, que é maior. Também não se encontra sobre nenhum torreão, mas antes no fecho do pentágono, ponto mais avançado do Terreiro apontado à estrada anteriormente referida.
Curiosamente, ou talvez não, se em Janeiro de 2003 houve uma cruz destruída e outra privada de um dos braços, esta terceira e principal nada sofreu, como se estivesse protegida na sua dignidade de Cruz do Salvador, entre as outras duas dos "ladrões", neste Gólgota sintrense dos Capuchos. O terreiro representará, sem dúvida, o Monte no qual O Cristo foi crucificado entre dois homens comuns, mas o seu simbolismo está longe - muito longe - de se esgotar nesta relação mais evidente.
Ao fundo do Terreiro, um bonito muro de pedra, cortado por um bloco granítico de grandes dimensões, sustem as terras do monte que se eleva para lá deste espaço. Infelizmente, faltam-lhe vários tijolos, o que empresta ao espaço um ar de degradação, que efectivamente existe, e que importa corrigir. Até onde se prolongaria o muro? Quanto tempo aguentará o que resta dele?
Saindo do Terreiro já em direcção ao espaço intra-muros do Convento deparamo-nos com dois enormes blocos de granito, que tocando-se formam o arco do portão que dá acesso ao primeiro pátio interior do cenóbio - do latim cenobium, "lugar onde se vive em comum" - franciscano.
Sobre a maior, que deitada se encontra dentro do Terreiro, existe um pequeno sino, anteriormente encimado por uma cruz de pedra desaparecida. Hoje é impossível tocar o sino, anunciado a chegada de visitantes ao Convento, já que alguém se lembrou de dar um nó na corda que desce pela pedra abaixo, passando por uma argola fixa no granito. É uma pena...
Óptimo trabalho, o Convento dos Capuchos que visitei muitas vezes, nunca me tinha permitido uma leitura dos sinais que lá estão (estavam) como com este teu trabalho -irei lá voltar em breve.
ResponderEliminarUm abraço
Pedro Macieira
Fui ao convento á 3 dias e o já tocam o sino! Fui numa visita guiada e um grupo ficou perto da loja de lembranças enquanto que o nosso foi com um guia, e quando passámos nesse arco o guia tocou o sino, provavelmente para avisar ao outro onde estão.
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