segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Hoje é dia de S.Francisco de Assis


A estigmatização, por Gentile da Fabriano.

domingo, 5 de setembro de 2010

Fezes de pássaros, na Cruz do Alpendre da Portaria

O assunto já aqui havia sido tratado em Fevereiro de 2009, e desde então nada mudou, excepto a minha convicção de que as fezes dos pássaros são de facto extremamente nocivas para a "saúde" da tábua em causa...

Hoje, no Convento, pude constatar que o perigo potencial de fezes sobre o frade crucificado dos Capuchos de Sintra passou a situação concreta, tornando-o cada vez mais urgente a remoção do ninho e a limpeza das fezes.



No entretanto, o serviço de catering montado junto ao Terreiro das Cruzes e os carrões com motorista estacionados no portão principal da Pena indiciam visita de gente bem colocada aos Capuchos de Sintra. Sendo dia do croquete e dos discursos de circunstância, fica o apelo - mais um! - a uma rápida e efectiva intervenção no Convento, onde nada muda faz muito tempo...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Convento (bem) ilustrado

Aqui e aqui.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

450 anos do início da construção dos Capuchos de Sintra

Passam hoje 450 anos sobre o início das obras de construção do Convento.
Ler mais sobre o assunto aqui.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Do "Tao Te King"

Uma passagem bem próxima do franciscanismo da Santa Cruz da Serra de Sintra:

"Rejeita a sabedoria e o conhecimento
O povo tirará assim cem vezes mais proveito.

Rejeita a bondade e a justiça
O povo voltará à piedade filial e ao amor paternal.

Rejeita a indústria e o seu lucro
Os ladrões e os bandidos desaparecerão.

Se estes três preceitos não forem suficientes
ordena o que se segue:
distingue o simples e abraça o natural,
reduz o teu egoísmo e refreia os teus desejos."

Ilustração de W.H. Burnett (1834)


(clique sobre a imagem para ampliar)

BURNETT, William H., fl. ca. 1830-1860. The Cork Convent [Visual gráfico / drawn from nature & on stone by W. H. Burnett. [S.l. : s.n., ca. 1834]. - 1 gravura : litografia, p&b (impr. sobre papel china)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

D. Afonso VI e o hábito franciscano

Nove anos passou D.Afonso VI fechado no Paço da Vila de Sintra, depois de cinco anos vivendo nos Açores (e mais concretamente na Ilha Terceira). Trata-se de uma das histórias mais tristes ocorrida durante a dinastia de Bragança, de que foi segundo rei, sucedendo-lhe o irmão - D.Pedro II - aliás regente desde 1667, que muitos acusam de ter envenenado o irmão, depois de o submeter a clausura desumana.



Seja como for, contam as antigas narrativas que depois da sua morte, ao rei foi vestido um hábito de S.Francisco, "o primitivo, e cingido o cordão da mesma ordem seraphica". Tinha ainda sobre os ombros o hábito da Ordem de Cristo, e sobre as mãos o capacete da mesma Ordem.

Pergunto-me se durante os 9 anos de prisão no seu quarto do Palácio da Vila, o rei a quem chamaram no seu tempo "O Vitorioso" não terá tido contacto com frades capuchos do Convento de Santa Cruz (que, como se sabe, se deslocavam regularmente à vila, para tratar de assuntos diversos), justificando esse contacto com os franciscanos da Santa Cruz a opção de levar consigo, para a "última morada" o hábito da ordem fundada pelo Santo de Assis.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A Cela (dita) "de D.Sebastião"

Quem passando o portão do Convento segue pelo terreiro que se segue chega ao Telheiro da Portaria, onde uma magnífica cruz revela segredos que não importa aqui abordar. A ladear a Cruz (que se pode ver na fotografia em baixo) duas portas dão acesso a pequenas divisões, sendo uma delas muito especial pela função que a história, ou a lenda, lhe destinou.



Já aqui havia referido que, segundo a tradição local, D.Sebastião passou nos Capuchos de Sintra um período de reclusão antes da partida para o Norte de África, onde se deram os acontecimentos de Álcacer-Quibir. Acrescento agora que, segundo me contou o antigo guarda do Convento, Frei Gaspar, a cela onde esteve encerrado (uma semana inteira, em contemplação da Santa Cruz) o Rei-Menino foi esta sobre a qual aqui escrevo.



A cela é pequena, como o são as restantes celas do Convento, mas tem uma particularidade que a tornava especialmente indicada para o propósito referido (a contemplação do símbolo da Cruz): a luz natural entra nesta cela por uma pequena janela, localizada junto ao tecto, num dos seus cantos. A orientação desta janela permite a quem nela se encerrar observar a magnífica rocha que domina a paisagem do Convento, e sobre a qual se erguia - até há alguns anos - uma pequena Cruz de pedra.


Corte na conhecida ilustração de W.H. Burnett.

Imagine-se pois o Rei de Portugal, D. Sebastião, fechado na escuridão da cela, alimentando a alma apenas do pão espiritual servido pela Cruz daquele penedo.

Convento ou Mosteiro?

Muita gente sente grande dificuldade em distinguir Conventos e Mosteiros, não conhecendo os motivos que permitem atribuir uma denominação ou outra aos lugares de recolhimento de religiosos cristãos.

A primeira distinção a fazer-se diz respeito à identificação dos seus ocupantes: se uma determinada casa consagrada à vida em comunidade de religiosos é habitada por membros de uma ordem monástica (ou seja, monges), então estamos perante um Mosteiro; se a comunidade é constituída por membros de uma ordem mendicante, então trata-se de um Convento.


Na imagem (Duarte d'Armas, 1510), o Mosteiro de Nossa Senhora da Pena (cume mais à direita da Serra de Sintra), ocupado por Monges Jerónimos.

As ordens mais conhecidas de ambas as tipologias são: Mendicantes - Franciscanos, Dominicanos (também chamados "Pregadores"), Carmelitas e Agostinianos; Monásticas - Jerónimos, Cistercenses, Trapistas e Beneditinos.

Muitas fontes referem a localização dos Conventos (dentro dos muros das cidades medievais) e dos Mosteiros (normalmente localizados fora dos muros) como factor de distinção. Em todo o caso existem inúmeros exemplos de Mosteiros localizados dentro das cidades e de Conventos construídos em locais isolados, que tornam este critério falível, datado e de difícil aplicação.

O marco viário de Sintra (1999)


(clique sobre a imagem para ampliar)

Mais sobre o marco viário da Estrada de Monserrate, aqui.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Leitura aconselhada sobre o Convento


Sintra - 7 anos numa ilha
de Emídio Copeto Gomes e Gustavo Figueiredo

Editora: Texto Editores
PVP c/IVA: 24,99 €
Data de Capa: 2007/09/24

Breve Descrição: «... Sintra é maior do que o seu espaço geográfico. Nela, nada é produto do estéril e superficial campo da fantasia. Nesta terra cintilante e fecunda, tudo está ali para ser apercebido como um outro plano do Real.»

Comprar aqui.

As capelas do "Ecce Homo" em Sintra e Varatojo

"Ao percorrer esta matazinha, que não foi plantada com artísticos cuidados, mas fôra um pedaço de monte, cujos arbustos cresceram à mercê da sua natureza e formaram selva, mais ao diante aproveitada pelo primeiro colono, estabelecido naquele monte, convertendo-a depois em quinta utilitária e de recreio o primeiro proprietário que no lugar se estabelecera.

Uma capelinha mariana, erguida no local do antigo sobreiro, no fim do século quinze, continua a lembrar-nos o encontro da imagem milagrosa, agora venerada na sua capela da portaria conventual. Andada uma dúzia de passos frente àquela capelinha da mata, topamos, à esquerda, o antigo forno da cal que ele fornecera para o convento, nos anos de 1470-1474, convertido em devotíssima capela, com três grutas, abertas na sua circunferência, cada qual com sua imagem. A principal, à frente de quem entra, forma uma pequenina capelinha, azulejada com quadros de raro acabamento, datados do ano 1737.

A imagem antiga ali venerada era a do Senhor Ecce Homo; actualmente, porque esta desaparecesse com a invasão dos republicanos em 1910, foi substituída pelo Senhor à Coluna".

(Sobre a capelinha do Varatojo, fonte)


(a capelinha de Sintra)


(a capelinha do Varatojo)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

D. João de Castro e a Igreja Católica na Índia

A leitura do livro "O papel da Igreja Católica na Índia", de Fernanda Durão Ferreira, permite compreender melhor o antes e o depois da chegada dos Jesuítas (em grande parte espanhóis) aos territórios ultramarinos portugueses na Índia, e o tipo de convivência entre Cristãos europeus, Cristãos de São Tomé e religiosos hindus locais nos dois referidos períodos.

A obra debruça-se também sobre o período do governo de D. João de Castro (1548), fundador espiritual dos Capuchos de Sintra, coincidente aliás com a acção na Índia daquele que foi o grande iniciar de um tipo de perseguição destruidora e estruturada dos católicos romanos europeus relativamente ás demais confissões religiosas fixadas nos territórios indianos sob controlo português, o jesuíta espanhol "São" Francisco Xavier.


S. Francisco Xavier em Goa. Pintura de André Reinoso.
Igreja de S.Roque, Lisboa.

É conhecida a relação conturbada que entre os governadores e vice-Reis portugueses relativamente aos religiosos da Contra-Reforma. Uma carta, que mais tarde procurarei transcrever, dirigida por D. João ao filho D. Álvaro dá nota do descontentamento do nobre português face ao comportamento - muito pouco católico - dos religiosos que se "orientavam" no Oriente português.

"As bodas de Deus", de João de César Monteiro



O filme "As bodas de Deus" (longa metragem de 1998), de João de César Monteiro, é parcialmente filmado no Convento dos Capuchos.

Um filme aconselhado



Pese embora se debruce sobre o silêncio trapista, e não a aspectos específicos do franciscanismo, o filme-documentário toca em pontos comuns às duas ordens. A não perder, para quem se interessa pela vida destes homens.

Sintra e o Bussaco, no livro "Omnia" (1812)

Um dos Conventos que, em território nacional, mais se aproxima ao de Sintra encontra-se no coração da Serra do Bussaco, e é Carmelita. Tal como o de Sintra, o Convento do Bussaco é dedicado à Santa Cruz, e desde há muito que os visitantes o associam, na beleza e simplicidade ao cenóbio capucho franciscano sintrense: "O convento recorda o bem conhecido Convento da Cortiça, em Cintra; tem todavia uma escala maior, e um enquadra-se num cenário talvez mais impressionante; a cortiça é usada em vez da madeira, um sinal da sua pobreza".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Fotografia | O Alverne lusitano


O convento, em 1789

"Os lobos e as raposas, que habitavam as grutas e cavernas desses cumes, foram de um deles desalojados por um grupos de novos habitantes, que, tirando os assuntos de religião, têm relativamente às bestas selvagens a vantagem da humanidade; refiro-me a um grupos de frades, que consagraram as covas abandonados, e ali fizeram morada. Jantámos com eles junto ao portão do seu tosco e invisível convento, e fomos tratados com grande hospitalidade."

Por W. Allen, "The Edinburgh Magazine" (Julho de 1789).

Frade capucho de Sintra, 1821



Ilustração de Marianne Baillie (1821)
Livro completo aqui.

Recordações do anno de 1842", pelo Príncipe Lichnowsky

"Os arredores de Cintra têm sido muitas vezes descriptos e decantados; limitar-me-hei a dizer que empreguei alguns dias em visitar Collares, os seus jardins, e vinhas, as modernas ruínas do palácio de Monserrate, e o celebre convento de cortiça*, que D.João de Castro o grande vice-rei da India edificou** em 1560 entre os mais elevados pincaros da serra, e que quatro annos depois recebeu do Papa Pio IV alguns privilegios, que ainda so vêem esculpidos em pedra na ermida. Este pobre mosteiro*** entalhado na rocha , e cujas paredes são forradas de cortiça para evitar a humidade é obra digna do seu fundador o piedoso, e pobre heroe que á hora da morte disse ao seu amigo, S.Francisco Xavier****: «O vice-rei da India morre tão pobre que não tem dinheiro para pagar uma galinha»".

Em "Portugal. Recordações do anno de 1842", pelo Príncipe Lichnowsky.

Notas:

* O autor - ou do seu tradutor - emprega de facto o termo "convento de cortiça" e não "da cortiça".
** Na realidade quando o Convento foi erigido já o vice-rei havia falecido na Índia. A fundação do Convento ficou pois a cargo de D.Álvaro, seu filho, que realizou a obra, por vontade de D.João.
*** Trata-se na realidade de um Convento e não de um Mosteiro.
**** Sobre as relações de "amizade" entre os vice-reis portugueses e os jesuítas enviados pela Contra-Reforma para a Índia, sugiro a leitura de "O papel da Igreja Católica na Índia (1498-1640)", de Fernanda Durão Ferreira (Hugin).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Vimal do Duque, na Serra de Sintra



A 13 de Dezembro de 1605, os religiosos do Convento de Santa Ana, carmelita, tomaram posse de águas provenientes da Serra. Deste acto dá nota um "Auto de posse", contido na Chronica dos Carmelitas, e no qual se faz referência a um lugar chamado "Vimal do Duque", "junto dos Capuchinhos da Serra, termo desta villa de Colares".

Deste acto de apropriação das águas daquele lugar foram testemunhas várias pessoas, entre as quais um tal de Alvaro Luiz, "morador no lugar da Boca da Matta", este bem mais próximo do já referido Convento de Santa Ana.

Apothegmas Memoraveis. Livro III



"A Rainha D.Catharina indo ver o Convento dos Capuchinhos da Serra de Cintra, que he edificado em hum penhasco, chamou aos Religiosos delle Ratones del Cielo".

Apothegmas Memoraveis. Livro III (1761), pág. 297.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O SOS Capuchos arrancou de novo

O SOS Capuchos regressou, após quase um ano sem actividade visível. A investigação e recolha de materiais continuou, mas o blogue esteve parado, por razões diversas, que não importa detalhar neste espaço. Seja como for, convido todos os habituais (e novos) leitores a retomarem as suas visitas, que o blogue recuperou a actividade (ainda que sem o intenso ritmo de outros tempos).

Frei Carlos da Conceição, "herói acidental"

Lisboa, 21.03.1819

Havia 24 para 25 anos (desde 24 de Agosto de 1794) que esta capital não gozava do magnífico espectáculo de uma viagem aerostática, que é sem dúvida um dos mais maravilhosos efeitos dos progressos das ciências nos últimos tempos, quando no dia 14 do corrente Março se viu renovado este esplêndido divertimento de um modo o mais brilhante que neste género se tem visto.

Tendo há tempos Mr. Robertson, bem conhecido na Europa por seus conhecimentos práticos de Física experimental, chegado de França com seu filho, mancebo de coisa de 20 anos, a esta capital, e tendo pedido e alcançado licença para fazer uma ascensão aerostática, aumentando com esta o número de muitas que tem feito em diversos países, designou executá-la a 28 de Fevereiro; mas não o permitindo o tempo chuvoso, ficou transferida para o dia de domingo 14 de Março, o qual amanheceu com todo o brilho que neste delicioso clima se goza em tempo de estio, e particularmente na Primavera.

Era o sitio destinado para esta operação a formosa Quinta da Excelentíssima Condessa de Anadia, a S. João dos Bem Casados, que S. Exa. generosamente se dignou prestar a Mr. Robertson para este fim, e cuja situação elevada oferecia um excelente ponto para a partida do aeronauta, desfrutando-se esta ao mesmo tempo de diversos lugares eminentes. Em uma área espaçosa desta Quinta se tinham destinado lugares de primeira e segunda ordem para um avultado número de subscritores que desejavam presencear de perto à operação de encher a máquina, para cujo fim estabeleceu no centro o hábil físico um aparelho pneumato-químico formado de 14 tonéis, de 8 dos quais só precisou extrair o gás, começando a trabalhar das nove e meia para as dez horas da manhã. Por volta da uma hora encheu o dito Professor um globozinho, que tinha as armas reais, e o levou à Excelentíssima Condessa de Anadia para S. Exa. se dignar de o soltar, e elevando-se ao ar, tomou a direcção do Noroeste, o que deu a conhecer aos espectadores qual deveria ser o rumo que seguiria o aeronauta, cujo balão grande, de 21 pés de diâmetro, já então estava cheio e pronto a partir. Para entreter porém mais os espectadores até à partida do seu balão, lançou Mr. Robertson mais alguns pequenos aeróstatos, tendo o último o feitio de um avultado peixe. Tocavam de vez em quando os músicos da Guarda real da Polícia, que se achavam no recinto, lindas sonatas, que animavam mais o vivo interesse que se divisava naquela conspícua assembleia.

Esperava o público que seria Mr. Robertson, pai, o que subiria aos ares, e tal fora sempre a geral expectação, quando seu filho, o mancebo Robertson, desejando segui-lo nesta carreira, testemunha da maior parte das ascensões aéreas de seu pai, e tendo já subido com ele aos ares em Viena, instou lhe concedesse datar deste dia, e em tão brilhante ajuntamento a época da sua primeira ascensão aerostática em que fosse ele só. Tendo o pai anuído aos seus rogos, e certo de que se achava capaz de bem desempenhar esta arriscada empresa, entrou na barquinha o mancebo Robertson pelas duas horas e um quarto, e elevando-se um pouco a máquina, ainda preza por algumas guias, girou em torno da assembleia que ocupava o recinto, espalhando por cima dos espectadores vários papéis de versos análogos ao espectáculo. Baixou depois disto, e marcando os grãos do termómetro e do barómetro que levava, e as horas do seu relógio, se elevou pelas duas horas e três quartos, e na altura de coisa de 15 braças, lançando abaixo a bandeira, e descobrindo-se, bradou três vezes Viva El Rei, ao que respondeu o imenso concurso dos circunstantes. Foi-se o globo entre vivas e aplausos elevando majestosamente com grande serenidade, e quase perpendicularmente por grande espaço, indo entretanto o aeronauta deitando, até já ir em grande altura, mãos cheias de papéis de várias poesias impressas para esse fim.

Um quarto de hora depois da partida, vendo o aeronauta debaixo de seus pés uma bela povoação (que era Benfica), abriu a válvula do balão para descer, e falando, apartado do chão a altura das casas, com o povo que ali se apinhara, espalhou alguns papéis, e aliviando de algum lastro a barquinha, bradando Viva El Rei, tornou a elevar-se a maior altura, calculada em três quartos de légua nesta segunda subida, na qual, muito mais alta que a primeira, deu o jovem físico grande prova de sua intrepidez e talento.

Vendo-se já quase iminente ao mar, abriu de novo o registo do balão para subir o gás, e foi descendo contrariado pelo vento, chegando a terra pelas 4 horas e meia, num campo lavrado perto do sitio de Galamares (meia légua ao poente de Sintra), onde lhe prestou o mais oportuno auxílio para subjugar o balão o R.P. Fr. Carlos da Conceição, dos Capuchinhos da Serra. Os habitantes do campo correram também a qual mais desvelado o havia de ajudar, e foi conduzido o intrépido aeronauta como em triunfo a Sintra entre clamores de júbilo, e não se farta de expressar quanto o seu coração se acha penhorado pelo obséquio que ali de todos recebeu.

Se quiséssemos pintar com expressões o lindo quadro do brilhante espectáculo deste dia, ou elas nos faltarão, ou quando pudéssemos vencer esta dificuldade, seria julgada hiperbólica a sua descrição pelos que o não viram, e inútil pelos que o gozaram, pois sempre a sua vista lhes deixara muito mais viva impressão. Figurem-se pois os que não presenciaram este espectáculo, o mais formoso dia, e o mais sereno, uma reunião de não menos de 50% habitantes desta capital em todos os sítios próximos ao do lugar da ascensão, e neste lugar a maior parte da fidalguia, alguns dos Excelentíssimos membros do governo, o excelentíssimo Marechal General, e outros Generais do Exército, enfim, um sem número de pessoas nacionais e estrangeiras de diversas hierarquias, brilhando com o maior gosto, riqueza, e primor os enfeites e adornos da mais luzida assembleia que se hajam talvez jamais visto do belo sexo; e sobre tudo dito, a belíssima ordem e sucesso que houve, as acertadas medidas tomadas pela Polícia, cuja Real Guarda ali se postou, e nos lugares mais convenientes, para a expedição do inumerável concurso das carruagens, que cobriam as estradas daqueles contornos; e assim se terá uma ideia aproximada, mas muito débil, da grata sensação que deixou nos ânimos dos que viram este lindíssimo espectáculo. Só uma circunstância a podia fazer mais completa nos corações portugueses; o leitor a conhecerá no fim do penúltimo verso do seguinte soneto, que, como os outros versos que o aeronauta espalhou, passamos a transcrever por satisfazermos a vontade do público que os deseja ler.(...).

(Em casa de Mr. Robertson se há de achar brevemente impressa a Relação desta Viagem, com os cálculos que por esta ocasião se fizeram).

(Gazeta de Lisboa n.º 69, 22.03.1819).

Post integralmente retirado do Blogue De Rerum Natura.