Saídos do pequeno pátio que se segue ao arco formado pelas fragas do portão, entramos num terreiro um pouco mais amplo, já com o Convento bem à vista, e que termina no Alpendre da Portaria, de que nos ocuparemos no futuro.
Maravilhoso, este espaço.
À esquerda, duas mesas servidas por bancos corridos de pedra, emolduram uma belíssima fonte, da qual sai ininterruptamente água limpa e fresca da Serra. Destas meses se diz que era local de eleição para o descanso e refeições de D. Sebastião, nas suas deslocações aos Capuchos.
A fonte está bastante degradada, faltando-lhe parte do bonito revestimento pétreo da sua estrutura. Ao centro, por cima da bica, um nicho guardava - ao que consta - uma imagem de Nossa Senhora da Rocha. Rocha, Roca, Pedra, Penha, Pena. Sinónimos que se repetem um pouco por toda a Serra de Sintra, evocando de forma por demais evidente a natureza sagrada deste monte de colossais e ciclópicos blocos graníticos.
A imagem desapareceu. Uma entre muitas imagens desaparecidas do primitivo recheio conventual. Dela restam antigas referências do século XIX. Ainda existirá? Quase a consigo imaginar a servir de "decoração" na casa de um particular... Triste destino para uma imagem que outrora viveu mais junto ao Céu, no cimo do Monte Ida português.
A vegetação do terreiro é hoje muito menos densa do que há alguns anos. Estará mais limpo para uns, menos próximo da sua natureza para outros. Seja como for, o fundamental da sua beleza está lá, que o sinta quem conseguir sintonizar no seu coração o bater do órgão vital da Serra, de que nos aproximamos.
Junto ao Telheiro, do lado da parede da sacrístia/coro cuja janela dá para este pátio (a janela que, vista de dentro, reproduzo em fotografia no cabeçalho deste blog), bonitos brincos de princesa emprestam ao lugar - em determinadas alturas do ano - uma cor verdadeiramente deslumbrante...
Que não se deslumbre o visitante, todavia. Este é um lugar de encontro com a verdade, e para a sentir temos de estar despertos para a Realidade.
Para ouvir o Convento não o tentemos ouvir. É que a ele se aplica por completo este excerto de Mensagem de Fernando Pessoa, incluído no poema "As Ilhas Afortunadas":
"(...)
E a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar."
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