"Em que te mereci, oh Agostinho
Que n'esta escura selva me deixasses
Tomando para ti melhor caminho?"
Agostinho Pimenta toma hábito, adopta o nome religioso de Fr. Agostinho da Cruz, e é o poeta Diogo Bernardes quem se lamenta do irmão o deixar "n'esta escura selva", que é a realidade exterior aos seus votos e à sua nova casa, em Sintra, para tomar "melhor caminho".
Diogo Bernardes era, segundo alguns autores, amigo pessoal de Camões, e homem bem relacionado com o Rei-Menino D.Sebastião, que lhe pediu que com ele embarcasse para o Norte de África, em vésperas dos acontecimentos de Álcacer-Quibir.
Talvez seja esta a justificação para alguns afirmarem que, contrariamente ao que muitos defendem, a leitura que Camões fez dos Lusíadas perante D.Sebastião não teria acontecido no Paço de Sintra, nem sequer na Penha Verde (como afirma Garret, no livro que dedicado ao poeta maior da nossa história) mas antes nos Capuchos.
D.Sebastião seria, assim o creio, visita regular dos franciscanos de Sintra, e poderá ter acontecido o próprio Camões ter visitado o Convento a convite de Bernardes, que ali tinha como frade o seu irmão Agostinho. Poderá? Especulação pura, já que para além da tradição oral e da convicção de alguns estudiosos do tema, nada prova que assim tenha acontecido, e as relações familiares e de amizade entre os intervenientes não é base suficiente de sustentação.
Também se afirma que teria sido no Convento que D.Sebastião teria escrito as cartas de mobilização para a Campanha do Norte de África, em número que rondaria as oito mil... Frei Bernardo da Cruz confirma, na sua "Chronica de El Rei D.Sebastião" que as cartas foram escritas em Sintra, mas nada de concreto e objectivo se diz acerca do local da Serra ou da Vila onde as mesmas foram redigidas.
Seja como for, a ligação do Convento ao Sebastianismo é imensa. Porque foi local de visita do Rei-Menino, porque a tradição local liga - pelo menos em parte - a leitura dos Lusíadas e as cartas de mobilização para África ao cenóbio franciscano, porque ali passou alguns meses o "falso D.Sebastião" que se chamava Mateus Álvares, e que ficou para a história conhecido como "o Rei da Ericeira"...
Excelente blogue, excelente iniciativa.
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