De Sebastianismo temos falado aqui, no SOS Capuchos, avulso e sempre que o tema se justifica. Ora, é a ele que regressamos, para abordar ao de leve a figura de um João de Castro, que não o 4º Vice Rei da Índia, mas antes um seu neto, filho bastardo de D. Álvaro de Castro, e nome maior da defesa do célebre Cavaleiro da Cruz, que acreditava ser de facto o Rei desaparecido D.Sebastião.
Vale a pena ler a biografia deste João de Castro, que viveu na infância com a sua avó D. Leonor Coutinho, até ingressar ainda menino no Mosteiro de Nossa Senhora da Penha Longa (Jerónimo), no sopé da Serra de Sintra.
Ali conheceu um seu companheiro de viagem, "moço honrado de Sintra" e filho de um mestre de obras local conhecido do Cardeal Rei D. Henrique (monarca português ligado à história do Convento), com quem fugiu - pela calada da noite - da Penha Longa, em busca de aventura e outro sentido para a vida. Chamava-se Manuel Carreira.
D. João de Castro (neto) conta-nos nas suas notas autobiográficas que com o seu amigo do tempo da "Pera-Longa" viajou até Évora, ali se fazendo estudante na Universidade local. O neto do Vice-Rei viveu durante alguns anos da misericórdia e esmola alheia, sendo por mais de uma vez referido por si um estudante africano, negro, de seu nome João Pinto ("homem preto, natural do Congo, ou de Angola").
A vida deste descendente do fundador-espiritual do Convento não se cruza, pelo menos que disso eu tenha conhecimento, com os Capuchos de Sintra... Mas no texto que felizmente nos deixou acerca da sua vida meio-vagabunda refere que Manuel Carreira o deixou em Évora, regressando para a casa de seu pai (em Sintra, como já referi), para tomar o hábito franciscano:
"(...) determinou meu companheiro de se tornar para casa de seu pai, como fez, metendo-se ao diante Capucho, ou Descalço (nde: carmelita, portanto), como desejava; de que não sei mais.".
Pergunto-me se Manuel Carreira, que desejava muito ser Capucho como refere João de Castro no início do texto, não teria feito o seu noviciado precisamente no Conventinho de Santa Cruz, já que esta é a única casa franciscana do termo de Sintra. Não conheço nenhum registo nem disponho de informação que o confirme.
É de facto uma pena que a documentação relativa à vida do Convento, incluindo os registos da e sobre a Comunidade que entre 1560 e 1834 ali viveu, esteja desaparecida e muito provavelmente arrumada na estante ou cofre de algum particular. Trata-se de documentação de relevante interesse público, na esfera do estudo do lugar em si e da particular vivência do franciscanismo ali praticada.
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